Amanhã, ao meio-dia, há missa na Universidade de Coimbra
Que o cidadão, Prof. Doutor João Gabriel Monteiro de Carvalho e Silva, tenha a fé que quiser e frequente o templo que entender, é um direito que cabe ao Estado defender.
Pode, como crente, encharcar-se em água benta, empanturrar-se em hóstias, tresandar a incenso, esfolar os joelhos em genuflexões e puir os dedos a passar as contas do rosário, mas não pode, como reitor, anunciar cerimónias litúrgicas de uma confissão particular e transformar-se em muezim romano.
A Universidade pública é, ou devia ser, um templo da sabedoria, mais dado à ciência do que à fé, e não um órgão de propaganda da religião do sr. Reitor.
Que a Universidade católica promova novenas, desobrigas coletivas, peregrinações pias e outras diversões litúrgicas, é um direito de uma escola privada. Que uma Universidade muçulmana respeite o Ramadão, obrigue ao jejum, a cinco orações diárias, com alunos, professores e funcionários virados para Meca, e a urinar em sentido contrário, faz parte da idiossincrasia islâmica.
Já uma Universidade pública, de um país laico, não pode, ao arrepio do espírito da CRP e da laicidade que exige, anunciar as missas por intermédio da sua máxima autoridade académica – o Magnífico Reitor –, na quebra da isenção e neutralidade religiosa de que devia ser o guardião.
Pode o crente, com papel timbrado e a expensas da Universidade de Coimbra, aplainar o caminho do Paraíso, com o proselitismo que o convite encerra, mas não contribui para a decência republicana, laica e democrática que a cidadania exige e a Universidade merece.
O aviso da missa solene comemorativa do Dia da Universidade e de lugares reservados nos cadeirais aos Professores e novos Doutores que confirmem a presença, desde que devidamente paramentados, transforma um reitor em sacristão.
É uma lamentável manifestação beata!
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