O PR e a fé

É inegável a categoria intelectual, cultural e ética de Marcelo. As auditorias promovidas pelo PR, em 2016 e 2017, devidamente publicitadas com a sua autorização, revelam que a salubridade regressou ao Palácio de S. Belém, certificada pelo Tribunal de Contas.

A qualidade dos seus discursos e a sua postura nas relações internacionais mostram um político preparado, que dignifica o País. A sua chegada foi uma lufada de ar fresco.

A simpatia de que goza é um capital pessoal que conquistou por mérito, mas foi o trilho aberto com inquestionável mérito por Cavaco Silva que lhe facilitou a avenida de afetos por onde circula. Sem a aversão suscitada por Cavaco nunca seria tão grande a simpatia, que condiciona os partidos políticos. Marcelo é o amigo dos pobrezinhos nas televisões e o dos muito ricos na intimidade.

A sua presidência, globalmente positiva, é uma infindável campanha eleitoral capaz de alterar o sentido de voto por quem pode prometer o que outros não podem cumprir, ao sabor da sua agenda ideológica e pessoal.

Cavaco falhou, de forma primária e canhestra, o que Marcelo sabe fazer com elegância e inteligência. Cavaco vingava-se da esquerda por ressentimento, este, luta pela direita com convicção e, no seu peronismo mitigado, molda o PSD a seu jeito e terá o líder que quiser. Basta-lhe esperar.

O que compromete Marcelo e o pode desacreditar é a fé, que turva a razão dos sábios. É a fé que o leva a genufletir-se, em humilhantes piruetas pias, para oscular sofregamente o anelão de qualquer bispo e, em volúpia mística, o do Papa.

A fé, e a deliciosa mescla de travessura, levam-no a atribuir os êxitos económicos deste governo ao “trilho aberto com inquestionável mérito” por Passos Coelho. Marcelo não mente, e crê tão piamente na ironia que chega a pensar que é realidade. E há verdade na afirmação. Se não fosse tão mau o anterior governo não brilharia tanto o atual.

Que constitucionalista confundiria o governo que, em quatro anos, nunca apresentou um OE constitucional e careceu sempre de um retificativo (8 no total), com um governo que já apresentou três Orçamentos imaculados e de resultados opostos aos do antecessor?

As travessuras de Marcelo, sem desmerecerem as qualidades que o exornam, estendem-se da Vichyssoise ao sarcástico elogio de requiem a Passos Coelho.

Os partidos de esquerda não devem afrontá-lo, dada a sua popularidade, mas têm de se preparar para o enfrentar. Por ora, alegremo-nos com a clarividência da saudosa Natália.

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