Passos Coelho faz conferências
O presidente do PSD disse ontem que o PCP e o BE “rosnam, mas não mordem”, numa conferência proferida na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), para que foi convidado.
O convite deve ter tido como critério a máxima anarquista surgida em França, ‘Maio de 68’, “quem sabe faz, quem não sabe ensina”.
Previam-se lugares comuns, medíocre formação económica e leveza intelectual de quem chegou a primeiro-ministro sem experiência adquirida, além da subalternidade a Ângelo Correia e Miguel Relvas e a administração da Tecnoforma, que o MP não conseguiu ou nem pôde investigar, e agora não quer, apesar das provas a partir das quais a UE exige a devolução de mais de 6 milhões de euros. Não desiludiu.
Só não se previa a terminologia com que se referiu aos partidos que apoiam o Governo PS na AR, como se a legitimidade que lhes nega não resultasse do défice de cultura democrática, dele e do anterior inquilino de Belém.
Dizer que o PCP e o BE ‘rosnam, mas não mordem’ foi a forma de dizer perante alunos e professores que, em vez de um sábio, convidaram um ignorante, a quem já se vaticina a candidatura a PR, como se a vergonha da década de Cavaco pudesse repetir-se.
Os alunos da FEUC têm o direito de convidar os conferencistas que querem, e PPC de fingir que tem alguma coisa para ensinar, mas não saíram mais sábios os anfitriões nem mais prestigiado o visitante. No período de debate da conferência sobre o OE-2018, um aluno inquiriu-o sobre a proximidade de Rui Rio à esquerda e sobre o futuro do PSD na oposição ao Governo. PPC recusou responder à plateia de cerca de 300 alunos, e disse:
“Não é porque eu não pudesse fazer comentários, mas eu não sou comentador. As pessoas pensam, evidentemente, mas não são obrigadas a dizer tudo o que pensam, senão nós assemelhávamo-nos a gente tonta que, em todas as circunstâncias, resolvia fazer considerações sobre todas as coisas que pensam”. Neste português canhestro, o destinatário pareceu óbvio, talvez a pensar em algum catavento da sua amargura.
Comentários
PPC sai da liderança partidária um pouco como entrou: a reboque das ditas circunstâncias, sem as entender e, pior, zangado com elas.
Por outro lado, os remoques contra a Esquerda (...os que 'rosnam') não passam de mais uma interpretação canina da política que o dito 'conferencista', ao longo da sua carreira política, sempre evidenciou.
De facto, durante a sua governação entreteve-se a abocanhar os portugueses e as portuguesas e a abanar a cauda a Berlim. Teve medo de 'rosnar' (quando foi preciso) mas, agora, aparece a 'zurrar'...
O convite não foi da Faculdade.
De: Simão de Carvalho
Data: 8 de fevereiro de 2018 às 17:13
Assunto: [Feuc.docentes] Economia Hoje Futuro Amanhã - "Orçamento de Estado 2018"
Para: feuc.docentes@uc.pt
O Núcleo de Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra vem por este meio convidar o corpo docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra a participar na primeira conferência do evento "Economia Hoje, Futuro Amanhã" intitulada "Orçamento de Estado 2018" que terá como orador o Dr. Pedro Passos Coelho.
Com as mais cordiais saudações académicas.
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Simão de Carvalho
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Presidente da Direção do NEE/AAC
Telemóvel: +351 961 287 092
Avenida Dias da Silva nº165
3004-512 Coimbra
O problema não é quem convidou. Poderia ser, antes, porque o convidaram, mas cada 'núcleo' sabe da sua vida.
Mais, os estudantes fazem parte da Faculdade. Esta não se resume ou confina ao corpo docente. Não se compreende a destrinça.
Não há aqui uma questão institucional. Sabemos todos que tudo aquilo que o ignaro conferencista afirmou, ou veiculou, não vincula a Faculdade.
Existirá quando muito um problema de idoneidade intelectual e científica. Todavia, não vale a pena especular sobre os citérios. Fiquemos por aqui e deixemos de lado questões laterais que podem estar na génese do convite para esta conferência.
Pelo texto reproduzido (no comentário anterior) fica a impressão de que outras se seguirão com outros protagonistas. Estamos aqui para ver.
As Faculdades - mesmo ainda não sendo 'Fundações' - disfrutam de ampla autonomia para este tipo de iniciativas. Sujeitam-se, depois, ao crivo da apreciação dos cidadãos que habitam fora do campus académico (com os naturais elogios, a indiferença e as críticas).
Maria Luís ofereceu-se, Marques Mendes aguarda oportunidade de agenda e outros da galáxia da direita caceteira e do bloco central aguardam na carteira laranja do Núcleo de Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra.