37º. CONGRESSO PSD: Passos Coelho, a 'geringonça', a cassete e as fidelidades…


Passos Coelho na oratória de despedida teve um desabafo que caracteriza o atual momento do PSD:” … Não é fácil bater a geringonça, mas é preciso bater a geringonçalink.
 
O momento para ‘os laranjinhas’ é de combate para regressar ao poder. Na despedida, onde lhe foi dada honras de abertura (quase de 1ª. página) houve elogios para todos os seus putativos apoiantes e dentro deste chorrilho de encómios quem ficou deficitário – praticamente de fora - foi o eleito Rui Rio.
 
A governação do PSD/CDS (2011-2015) foi, no entender de Passos Coelho, isenta de erros, pelo menos naquilo que considerou como sendo fundamental. Em Outubro de 2015 quando os portugueses retiraram à coligação de Direita, nas urnas, um apoio de cerca de sete centenas de milhares de votos, estavam a ser uns reles e ingratos.
 
A mensagem de conforto que dirigiu aos congressistas, e mais astuciosamente ao País, foi a seguinte: Fizemos o fundamental, sem esclarecer o que tomou por fundamental. Mas convinha esclarecer que o que foi fundamental para o ex-governante, ou até para o militantes do seu partido, pode não coincidir com o entendimento popular. Os cortes orçamentais cegos em tudo o que cheirasse a serviço público (a alucinação de um “Estado mínimo”), uma onda selvática de privatizações, a desvalorização dos salários, das pensões e reformas, a restrição dos apoios sociais, as alterações das leis laborais no sentido da compressão de direitos e regalias dos trabalhadores, o sub-reptício aumento do horário de trabalho com o pretexto de feriados excessivos, a indução de uma recessão económica abrupta, o empobrecimento forçado de largos estratos populacionais, o desemprego galopante e descontrolado, a alavancagem de uma nova onda migratória, parecem não ser coisas fundamentais para o dirigente do PSD em fim de ciclo e de validade.
 
O mítico diabo que foi sendo anunciado, após a nova solução governativa, teria, de facto, andado por cá entre 2011 e 2015. Só que alguns fingem que não o viram, mas muitos portugueses terão chocado com ele.
 
Melhor seria Pedro Passos Coelho ter abandonado o palco pela direita baixa (como se diz na gíria teatral). Já ouvimos muitas histórias, várias narrativas e bastantes efabulações. Vamos chegar a 2019, isto é, a um novo ciclo eleitoral, ainda a falar dos ‘gloriosos’ tempos de 2011, onde uma intervenção externa ditada pela conjuntura internacional veio ao encontro dos desígnios de uma Direita Ultraliberal. Nunca lhe ouviremos referir que a crise que se inicia em 2008 teve origem no sistema financeiro porque isso pode enervar os sacrossantos mercados.
 
O erro major continua presente no seio do PSD e a inquinar o seu futuro. O slogan do passado foi ‘conseguimos (a Direita coligada) o equilíbrio orçamental à custa de grandes sacrifícios’. E, depois, temos a obrigação de respeitar os sacrificados. Uma verdade para os carrascos mas uma enormidade para as pessoas. Desde logo, esconde-se e desqualifica-se a qualidade e escamoteia-se a profundidade dos sacrifícios.
Não foram só grandes, foram desmesurados e seletivos como, provavelmente, desnecessários. E a solução que a Direita volta a apresentar continua a ser enviesada: continuar os esforços orçamentais e fazer as pessoas esquecerem, assimilarem dos ditos sacrifícios. Tornar o empobrecimento virtuoso. Este foi o programa que o PSD impôs à extinta ‘PàF’ que exprimia a conceção direitista da anterior direção partidária.
 
Ontem, no Congresso, Passos Coelho voltou a repisar esta solução, na realidade, a fazer valer a sua opção ideológica que carreou do partido para o Governo. Não compreendeu o fim do ciclo que incarnou no XIX Governo, não facilitou o emendar da mão da desastrosa oposição que protagonizou nos últimos 2 anos, não teve a humildade de tirar ilações da significativa derrota autárquica em 2017.
 
No arraial congressista de ontem toda a gente percebia o problema criado e que estava à vista. Isto é, dois PSD’s em atitude de nítido confronto. A saber: por um lado o ‘PSD populista’ mais próximo do ‘PPD fundacional’ (que Santana Lopes tanto exaltou na campanha) e que disputou as 'primárias', à ilharga, o ‘PSD parlamentar’, entrincheirado e manietado pela corrente neoliberal (passista).
A sensação que transpirou daquele ambiente foi a de que o novel dirigente Rui Rio está funcionar como uma carta fora do baralho. A ver vamos se a nova direção consegue unir e disciplinar o partido. A herança não é fácil. Será uma tarefa gigantesca conseguir dar corpo e unidade ao PSD e ao mesmo tempo – como sugeriu Passos Coelho – bater (n)a geringonça.
 
Passos Coelho que disfrutou da honra de começar as hostilidades fez uma resenha enviesada do percurso que levou o PSD a ser o partido mais votado e, apesar disso, perder a maioria (coisa que é sistematicamente omitida) e reincidiu na desastrada postura que delineou nos últimos 2 anos de Oposição ao atual Governo, que se resume no anúncio do diabo. 
 
Onde e quando ouvimos falar e glosar uma famosa ‘cassete’?. Bem, aconteceu há um bom par de anos e já tínhamos esquecido. Ressuscitou!
 
Todavia, uma cassete (gasta) para bater na geringonça, será uma boa receita? Ou um instrumento suficiente?.  É que, quer na música, quer na política, as ‘cassetes’, ou as fitas em cassete, caíram em desuso, durante o século XXI, porque surgiram outros meios , mais ágeis e com maior fidelidade. E uma das questões ocultas deste 37º. Congresso, ainda a decorrer, diz respeito às ‘fidelidades’, principalmente, às ‘ocultas’.

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