As inquietações do Engº. João Cravinho…
"O PS deixou-se cair na armadilha e vai passar nos próximos meses a imagem de um partido de centro. O (Paulo) Portas dá lições de esquerda a Sócrates. O PS entrou numa deriva à direita e vai ser muito difícil fazê-la regressar sem que haja grandes alterações na direcção do PS" , afirmou o Engº. João Cravinho, militante “histórico” do PS, num espaço de discussão radiofónico (RR), link
Este desabafo de um socialista, actualmente a viver um “exílio dourado” no Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) em Londres, em consequência de ter preconizado (indesejáveis?) iniciativas contra a corrupção no nosso País, mostra como a crise da Esquerda atinge, neste momento, níveis impensáveis.
Mas a crise não se confina a Portugal. Atinge a Europa dos cidadãos, dos valores e dos modelos sociais.
Em 1992, a Esquerda governava (latu sensu) 15 países que, agora, integram a União Europeia.
Hoje, a sua influência na área da governação está restrita a cinco países. E nos que governa, como são os casos da Grécia, Portugal, Espanha, Reino Unido – a ordenação pode não ser exactamente esta - vivem-se situações que vão desde a ameaça de colapso (caso grego) a enormes dificuldades orçamentais, económicas e sociais (os restantes).
Na verdade, esta associação não é fortuita. De facto, a Direita governa as chamadas locomotivas europeias (Alemanha, França, Itália…), quase transformando a influência da Esquerda na área da governação europeia, numa excepção.
Este facto, não condicionou somente a emergência da presente (e prolongada) crise financeira, económica e social subsidiária do neo-liberalismo, cartilha politica da Direita mas, também, uma prolongada "crise da Esquerda".
Confrontamo-nos com abissais retrocessos nos direitos sociais e de cidadania. Muitas das conquistas sociais conseguidas com o empenho doutrinário e de lutas travadas pelas forças de Esquerda são, em todo o Mundo, alvo de ferozes ataques, em nome do fim das "ideologias" e do "triunfo" do pragmatismo.
Este desabafo de um socialista, actualmente a viver um “exílio dourado” no Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) em Londres, em consequência de ter preconizado (indesejáveis?) iniciativas contra a corrupção no nosso País, mostra como a crise da Esquerda atinge, neste momento, níveis impensáveis.
Mas a crise não se confina a Portugal. Atinge a Europa dos cidadãos, dos valores e dos modelos sociais.
Em 1992, a Esquerda governava (latu sensu) 15 países que, agora, integram a União Europeia.
Hoje, a sua influência na área da governação está restrita a cinco países. E nos que governa, como são os casos da Grécia, Portugal, Espanha, Reino Unido – a ordenação pode não ser exactamente esta - vivem-se situações que vão desde a ameaça de colapso (caso grego) a enormes dificuldades orçamentais, económicas e sociais (os restantes).
Na verdade, esta associação não é fortuita. De facto, a Direita governa as chamadas locomotivas europeias (Alemanha, França, Itália…), quase transformando a influência da Esquerda na área da governação europeia, numa excepção.
Este facto, não condicionou somente a emergência da presente (e prolongada) crise financeira, económica e social subsidiária do neo-liberalismo, cartilha politica da Direita mas, também, uma prolongada "crise da Esquerda".
Confrontamo-nos com abissais retrocessos nos direitos sociais e de cidadania. Muitas das conquistas sociais conseguidas com o empenho doutrinário e de lutas travadas pelas forças de Esquerda são, em todo o Mundo, alvo de ferozes ataques, em nome do fim das "ideologias" e do "triunfo" do pragmatismo.
As posições de múltiplos governos europeus questionam frontalmente um, cada vez mais, nebuloso “modelo europeu”. Basta olhar para 3 sucintos exemplos, como sejam, as políticas repressivas que incidem – com o aval da UE – sobre a imigração, a luta antiterrorista e a legislação laboral.
Desde as imprecações xenófobas de Sílvio Berlusconi que transformou a imigração ilegal em delito que pode ser punido com até quatro anos de prisão e concedeu poderes especiais aos delegados do governo para “retirar e expulsar” os ciganos, passando pelas disposições “sarkosyanas” que permitem às autoridades francesas o interrogatório de suspeitos durante seis dias sem a interferência de advogados de defesa, até às directrizes da UE que insistem em revogar a jornada de trabalho de 48 horas semanais (aprovada pela OIT em 1917!) substituindo-a pelas 60 horas semanais, assistimos a um amplo painel repressivo e retrógrado.
Até a Suécia - país de referência quanto aos direitos dos cidadãos frente a atropelos por parte do Estado - aprovou uma lei que permite ao governo ter acesso ao conteúdo de todas as mensagens electrónicas…
A Esquerda não compreendeu – e por isso não enfrentou – uma subtil, mas determinante, mudança das relações entre a Política e a Economia. Frente a um mundo globalizado com um sector financeiro em roda livre – não admitindo qualquer tipo de regulação – a UE dos espaços políticos abertos, das directrizes económicas e sociais progressistas e a credibilidade das instituições perde, todos os dias, influência e capacidade de manobra em detrimento da citada "política global", leia-se, neoliberal.
No final do século XX a queda do muro de Berlim “abanou” o Mundo. No momento actual, (início do séc. XXI) a queda de um outro muro corporizado na burla e ganância dos gurus financeiros de Wall Street (“wall” – significa muro), ameaça “abanar” a Europa e o seu modelo político, económico e social, sob um intolerável paternalismo da Direita (que Cravinho cita a propósito das posições de Paulo Portas sobre as privatizações) e uma manifesta impotência da Esquerda.
Uma Esquerda que, progressivamente, se descaracteriza, tornado-se pragmática, vazia de conteúdo, negacionista em relação à ideologia, enfim, em acelerado trânsito para o “utilitarismo”…
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