Notas soltas: Março/2010

Chile – Fevereiro terminou com uma catástrofe que se repetiu e prolongou por Março, tragédia cuja dimensão excedeu todos os registos históricos e fez regredir o país que tanto avançara na economia, justiça social e respeito pelos direitos dos cidadãos.

Direitos da mulher – As mulheres só tiveram direito a voto, pela primeira vez no mundo, na década de 20 do século passado. Neste progresso sentimos quanto sofreram as mulheres ao longo da história, vítimas de crenças e preconceitos.

Eleições presidenciais – Cavaco começou a campanha com a entrevista de Maria Cavaco Silva à revista do Expresso, de que foi capa e uma entrevista à SIC onde só não explicou o caso das escutas de Belém, a nódoa do mandato. Boa campanha de marketing com o falso tabu habitual.

Baltazar Garzón – O mais corajoso juiz espanhol tem excitado o ódio dos juízes conservadores. A sindicância aos crimes franquistas, centenas de milhares de assassínios, arruinou-lhe a carreira, depois da ousada luta contra o terrorismo.
Irlanda – A prisão de sete pessoas desmantelou um plano para assassinar o cartoonista sueco que fez um desenho de Maomé com o corpo de um cachorro. O ódio islâmico à liberdade de expressão é uma tara para a qual não existe antídoto.

Vaticano – A obsessão moralista e a ambição do poder colocou a comunicação social contra a Igreja católica divulgando os escândalos sexuais da Irlanda, Polónia e Alemanha, cuja ministra da Justiça acusa o Vaticano de estorvar as investigações.

PSD – O Congresso extraordinário de Mafra foi uma manifestação de vitalidade partidária e de confronto político que não merecia a infeliz votação da lei da rolha ao melhor estilo estalinista. Não suspendeu a democracia por seis meses mas impediu os militantes de discordarem durante dois.

França – A vitória da esquerda nas eleições regionais é a ressurreição adiada, mas o súbito regresso da extrema-direita, como reacção ao fundamentalismo islâmico, torna-se um pesadelo que os franceses dispensavam.

ETA – A organização terrorista, cada vez mais desorientada, continua a matar. A existência de bases em Portugal continua a ser uma forte possibilidade mas o assassínio de um polícia francês transformou-a num alvo prioritário do respectivo Governo.

Grécia – A contabilidade criativa permitiu aos gregos um nível de vida acima das suas possibilidades, com grave reflexo na credibilidade do País, na instabilidade social e no efeito de contágio que compromete a União Europeia e a sua moeda.

Venezuela – A eventual criação de uma lei que regule os portais da Internet, a pedido de Chávez, reaviva a polémica sobre a liberdade de expressão e faz do presidente mais um ditador sul-americano.

Conselho Superior da Magistratura – É animador saber que, sendo má a Justiça, são excelentes os juízes. Classificações: Muito Bom – 61; Bom com Distinção – 86; Bom – 85; Suficiente – 8; Medíocre – 0. Era preferível o contrário.

Israel – O judaísmo também tem demónios que conduzem o país a um beco e o mundo à instabilidade. O sionismo crê que a Palestina pertence aos judeus por direito divino e que é legítimo insistir no aumento os colonatos.

Rússia – Com as actuais dificuldades, Putin, cuja popularidade era imbatível, quer como presidente quer como primeiro-ministro, enfrenta agora protestos populares por todo o imenso país, com multidões em cólera contra a sua política económica.

EUA – A criação de um sistema de saúde universal foi a promessa de Obama. A aprovação da maior reforma social desde a criação da Segurança Social (1935) e do Medicare (1965), favorece milhões de americanos pobres. A decisão, lúcida e solidária, deve-se à coragem com que Obama enfrentou os interesses das companhias de seguros e a raiva dos Republicanos.

Líbia – O exótico eterno ditador Muamar Kadafi move uma guerra contra a Suíça por ter proibido a construção de minaretes, injustiça que não tem o direito de condenar quem exige como religião única o mais implacável dos monoteísmos – o Islão.

Plano de Estabilidade e Crescimento – A luta política à volta de um instrumento como este é absolutamente legítima mas usá-lo como arma, na luta interna dos partidos, foi, neste momento histórico um prejuízo que sairá caro ao País.

Pedro Passos Coelho – A vitória anunciada deste candidato foi uma derrota para as elites do PSD que não deixarão de o perseguir com a mesma sanha que usaram para Filipe Meneses. Cavaco, Jardim e Pacheco Pereira saíram derrotados pelo candidato dos autarcas.

PSD – A expectativa de regresso ao poder e o desejo de mostrar que é capaz de gerar um Governo melhor do que os de Barroso e Santana Lopes é a oportunidade de recuperar prestígio ou de dar lugar à recomposição do xadrez partidário à direita.

Armas nucleares – A celebração do acordo entre os EUA e a Rússia com vista à redução dos arsenais nucleares é mais uma vitória diplomática de Obama que reduz a tensão entre os dois países e torna mais seguros o mundo.

Itália – Berlusconi ganhou as eleições regionais e é inútil especular sobre as motivações do eleitorado. Em democracia há que aceitar os resultados, embora a subida da extrema direita, racista e xenófoba, se torne um factor acrescido de preocupação.

Moscovo – O acto terrorista do metro, para lá do nacionalismo que se adivinha, tem a assinatura dos suicidas islâmicos, atiçados nas mesquitas e madraças, e remete para o pesadelo das guerras do Cáucaso.

CERN – O Centro Europeu de Investigação Nuclear recriou o Big Bang e abriu uma nova era na Física para responder cientificamente aos enigmas sobre a estrutura da matéria e a formação do universo.

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