A ética e as filiações partidárias
Pelos vistos a indignação de José Lello para com a devassa do seu computador por parte de repórteres fotográficos com zooms muito potentes no plenário da Assembleia da República parece dividir as noções daquilo que é ético de acordo com as simpatias partidárias.
Já nem é a resposta asinina de Jaime Gama à reclamação do deputado que está em causa.
Já nem é esta espécie de temor reverencial pela classe dos jornalistas que parece espalhar-se como uma infecção.
Já nem é alguém pensar que o direito à privacidade e à reserva da individualidade de cada um deve ceder perante a coscuvilhice jornalística.
O que é curioso é que as pessoas que hoje criticam a indignação de José Lello são precisamente aquelas que há escassos seis meses, e sob a mera hipótese de isso poder vir a atingir José Sócrates, apoiaram entusiasticamente estes desabafos tão preocupados do Presidente Cavaco Silva:
«Será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?»
O problema é então este:
De repente, em Portugal a ética e as mais básicas noções do que é certo e errado estão agora dependentes e cedem acriticamente perante as diversas filiações partidárias.
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