Timeo Gallos et dona ferentes
Sarkozy compromete-se a ajudar financeiramente a Grécia caso tal seja necessário. Tal promete ultrapassar alguns sound bytes demagógicos menos diplomáticos relativamente a uma eventual ajuda alemã.
No entanto, estes presentes são sempre de desconfiar, e este será sempre inevitavelmente envenenado. Virgílio, na Eneida, referindo-se ao incidente do cavalo de Tróia, escreveu uma frase lapidar: timeo danaos et dona ferentes (desconfio doa gresos quando oferecem presentes). Substituamos aqui danaos (gregos) por gallos (franceses).
Em 2008, na cimeira de Bucareste da NATO, a Grécia iniciou negociações com a França para a aquisição de 5 fragatas classe Fremm, 15 helicópteros Super Puma, e a eventual substituição dos actuais caças F16 e Mirage 2000, pelos modernos Rafale. Este acerto foi o preço a pagar pelo apoio francês ao veto grego à admissão da Macedónia na NATO.
Ora, como já se demonstrou à saciedade neste blogue, e como é de conhecimento geral, uma das principais causas da crise financeira grega é a desproporcionada despesa em defesa, manifestamente acima das capacidades de um país com aquele tamanho e economia, e toda a engenharia contabilística empregue para camuflar e anestesiar essa despesa. Se a Grécia se visse de facto muito apertada para atingir os objectivos de estabilização financeira, poderia cair na tentação de voltar atrás em alguns compromissos em matéria de armamento, o que poderia comprometer os chorosos contratos bélicos que se propiciam.
Assim, a França emprestará dinheiro ou prestará garantias e swaps à Grécia, obviamente com juros, garantindo assim esses contratos militares, e ganhando ainda em juros: ou seja, um novo sistema de lend-lease. E a Grécia continuará assim a endividar-se para comprar armamento...
No entanto, estes presentes são sempre de desconfiar, e este será sempre inevitavelmente envenenado. Virgílio, na Eneida, referindo-se ao incidente do cavalo de Tróia, escreveu uma frase lapidar: timeo danaos et dona ferentes (desconfio doa gresos quando oferecem presentes). Substituamos aqui danaos (gregos) por gallos (franceses).
Em 2008, na cimeira de Bucareste da NATO, a Grécia iniciou negociações com a França para a aquisição de 5 fragatas classe Fremm, 15 helicópteros Super Puma, e a eventual substituição dos actuais caças F16 e Mirage 2000, pelos modernos Rafale. Este acerto foi o preço a pagar pelo apoio francês ao veto grego à admissão da Macedónia na NATO.
Ora, como já se demonstrou à saciedade neste blogue, e como é de conhecimento geral, uma das principais causas da crise financeira grega é a desproporcionada despesa em defesa, manifestamente acima das capacidades de um país com aquele tamanho e economia, e toda a engenharia contabilística empregue para camuflar e anestesiar essa despesa. Se a Grécia se visse de facto muito apertada para atingir os objectivos de estabilização financeira, poderia cair na tentação de voltar atrás em alguns compromissos em matéria de armamento, o que poderia comprometer os chorosos contratos bélicos que se propiciam.
Assim, a França emprestará dinheiro ou prestará garantias e swaps à Grécia, obviamente com juros, garantindo assim esses contratos militares, e ganhando ainda em juros: ou seja, um novo sistema de lend-lease. E a Grécia continuará assim a endividar-se para comprar armamento...
Comentários
Excelente post!
A "crise grega" é a ponta do iceberg , i.e., a visualização superficial e parcial dos graves problemas que estiveram na génese da Zona Euro, que têm sido ocultados aos europeus e contornados por sucessivos Tratados, desde Maastricht até ao de Lisboa.
Esta crise pôs a nu as fragilidades existentes nos 16 países que integram a Zona Euro. Na verdade, são estruturais as deficiências que se podem detectar na construção de uma unidade monetária dentro da UE - um vasto espaço económico, assimétrico e com insuficientes – como está à vista - mecanismos de regulação.
Independentemente dos problemas directos e imediatos que a crise grega levanta, nomeadamente, os referentes às faraónicas despesas com um dispositivo militar desproporcionado - maugrado a conflitualidade latente com a Turquia - penso que a solução de todo este imbróglio que, progressivamente, atingirá a globalidade da Zona Euro, através de políticas orçamentais austeras e fortes restrições ao endividamento, não conduzirá a bons resultados.
Enquanto persistirem profundos desequilíbrios estruturais na Zona Euro que colocam lado a lado, países que crescem regularmente, conseguem superavits na balança comercial, aumentam os salários e não perdem competitividade, com outros parceiros, periféricos (na localização geográfica e no desenvolvimento) onde a estagnação do crescimento, o congelamento salários e a consequente perda de competitividade, os “condena” a um insuportável endividamento e a desequilíbrios orçamentais, não chegaremos a nenhum lado.
A crise grega, portanto, tornou evidente que as soluções para a Zona Euro, como de resto para toda a UE, são eminentemente políticas.
Só uma efectiva solidariedade política e económica, bem como, a aplicação efectiva de critérios de convergência, poderão viabilizar o euro como moeda única, face a um mercado financeiro e monetário inquinado e agressivo onde – como sabemos - o dólar pontifica.
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