Graça Moura – hum aucthor distincto e intellectual archaico

Cartoon de Zédalmeida

Teophilo d’AssumpçãoThomaz era parocho e, em 1912, sem dar satisfacções sôbre a orthographia, prohibiu na sua parochia que a pronuncia do Portuguez modificasse a ethymologia na escripta, decisão de Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos e outros.

O parocho defendia o systema de orthographia da monarchia como o chimico defendia os manipulados da pharmacia. As phrases da rhetorica, fructo do seu talento, e as do theatro de que era aucthor, tinham a syntaxe d’esta lingua portugueza em que cantava os psalmos. Elle era hum intellectual distincto, não na arithemetica e na gimnastica, com intrucção para analysar a incoherencia e a differença da orthographia dos scelerados.

Teophilo odiava que o incommodassem com o novo systema de orthographia, abysmo que não approvava. Mandou collocar annuncios nos edificios da parochia a prohibir a nova orthographia e affligia-se com o que succedia nos novos livros.

Teophilo Thomaz foi um Vasco Graça Moura, fructo d’aquelle tempo. Perdia a phleugma e ficava exhausto nos combates mas, prompto, salvava o estylo e os diphthongos, às vezes com uma lagryma propria de quem se offendia com a expressão graphica das novas regras da Esthetica, que causavam damno à lingua portugueza.

Gostava de lyrios e melhorava a psychologia cantando psalmos. O extincto parocho não usou a assignatura archaica em paginas mal escriptas nem foi presidente do CCB.

Nota – Por decisão pessoal o autor do texto não escreveu segundo a Reforma Ortográfica de 1911.

Ponte Europa / Sorumbático 

Comentários

Rui Cascao disse…
Quiçá Teophilo Thomaz ameaçara ainda os parochianos com a excommunhão e os supplicios do Abysmo...
Carlos P. P. disse…
http://4.bp.blogspot.com/-3xI_9ZxFuqw/Ty_n5NuiCpI/AAAAAAAAGWA/2qsR0h8y-qA/s1600/img202.jpg

Ora dê uma vista de olhos
Ludwig Krippahl disse…
Carlos,

Acho que há uma diferença importante. O acordo de 1911 fez uma grande diferença porque mudou a escrita de etimológica para fonética.

Este de 1990 parece ser só para irritar. "Adoção" e "adopção" não se lêem da mesma maneira. A primeira até parece relacionada com adoçar, e não com adoptar. Que também não se lê "adotar". E "espectador" poder ser "espetador", porque alguém decidiu, sabe-se lá como, que na pronuncia culta se espeta sempre quem olha, só introduz confusão desnecessária.

As poucas palavras, como "acto", que de facto (eu digo o c...) já se lêem de forma diferente pouca confusão fazem. Menos do que o acordo.

A mim parece-me que o acordo de 1990 não é motivado por qualquer necessidade linguística mas apenas por alguma conveniência de livreiros, mesmo essa dúbia, visto também não dizermos ônibus ou trem.

Qual te parece ser a justificação para o novo acordo ortográfico?

(mas, à parte disto, o teu texto está genial :)
Ludi:

És um argumentador temível.

Como dizes - e bem -, o AO de 1911 segue a fonética (à semelhança do espanhol e do italiano)em vez da etimologia (como o francês).

Apesar de haver sempre novos vocábulos, alguns errados como «organigrama» em vez de «organograma, a entrarem no dicionário, penso que o tropismo fonético vencerá.

Se eu ainda fosse professor teria de ensinar a escrever de acordo com o novo AO mas aceito que haja quem preserve a ortografia a que se habituou.

Difícil é aceitar que alguém que aceitou um cargo político proíba aos colaboradores o respeito da lei.

Abraço amigo.
Ludwig Krippahl disse…
Carlos,

«Difícil é aceitar que alguém que aceitou um cargo político proíba aos colaboradores o respeito da lei.»

Mas, para mim, mais difícil é aceitar que haja uma lei que obrigue ou proíba a forma como se escreve as palavras... Que o professor de português me venha dizer que eu devia ter escrito assim em vez de assado, ok. Mas que o legislador se ponha a dar ordens acerca disso parece-me abusivo.

Eu escrevo como acho mais confortável para os que me lêem. Quando me parecer que a maioria está à espera de espetadores e atos, pois assim será. Até lá quero que o legislador vá levar no c que me quer tirar :)
Ludi:

Não quero perder o teu humor e a tua argumentação. Embora discorde.

Não terás «a excommunhão e os supplicios do Abysmo...» que o Rui Cascão sugeriu para os parochianos jacobinos.

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