A Garantia da Inocuidade do Produto

No passado dia 14 de Junho de 2007 escrevi aqui um texto dedicado ao tema dos chamados produtos homeopáticos a que dei o título de «Sem Indicações Terapêuticas Comprovadas».

Aí escrevi que na «Farmácia Homeopática de Sta. Justa» são «livre e impunemente vendidos, ou melhor, "impingidos" ao público, preparados misteriosos a preços astronómicos, embora sejam mistelas compostas quase só por água e nunca ninguém tenha conseguido demonstrar a sua eficácia ou sequer o seu efeito».
E disse ainda que a atividade destas coisas chamadas «Farmácias Homeopáticas» cabe bem dentro do âmbito das competências de fiscalização da «A.S.A.E.».

Pois bem:
A tal «Farmácia Homeopática de Sta. Justa» não gostou.
Vai daí, acusou-me do crime de «difamação»: diz a farmácia que a ofendi na sua honra e consideração e que, por isso, violei o artigo 180º do Código Penal Português.

E lá vou eu a julgamento no próximo dia 17 de Abril (pelas 9,30H na 3ª secção do 3º juízo do Tribunal Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça, na Expo).

Vai ser giro!
De facto, vai ser muito curioso ver onde está a «honra e a consideração» de uma farmácia que ganha rios de dinheiro a vender impunemente mistelas a que pomposamente chama «medicamentos», mas que o próprio Infarmed declara que só regista depois do respetivo grau de diluição ser de tal modo elevado que «garanta a inocuidade do produto».
E também desde que esteja garantida a «ausência de indicações terapêuticas especiais no rótulo ou em qualquer informação relativa ao produto».

Mas mais importante do que isso é esta curiosa atitude de uma empresa cujo ramo de negócios cabe bem (digo e, como é óbvio, repito) dentro do âmbito das competências de fiscalização da «A.S.A.E.» e que vende produtos declaradamente inócuos a fazer de conta que são medicamentos.

Trata-se, obviamente, de uma claríssima estratégia de intimidação, que mais não visa do que pretender continuar a vender impunemente a sua «banha da cobra» tentando fazer calar o exercício constitucional da liberdade da expressão de uma opinião cientificamente fundamentada.
- O que no julgamento será obviamente demonstrado.

Vai ser giro!

Comentários

e-pá! disse…
Uma denúncia oportuna contra o comércio de crendices e superstições…!

É cada vez mais notório e cientificamente evidente que os medicamentos homeopáticos baseiam os seus eventuais resultados terapêuticos no "efeito placebo".
Quando Samuel Hahnemann, no início do séc. XVIII (!), enunciou os conceitos da terapia homeopática, a Medicina vivia ainda os tempos dos "humores", i. e., estávamos na época pré-científica das Ciências da Saúde (neste caso da terapêutica). Hoje, quando sujeitos ao crivo da verificação e da avaliação farmacológica estes ancestrais fundamentos caíem no domínio "charlatanice".
Teorias como o "vitalismo" baseadas em forças invisíveis reguladoras biológicas dos organismos podem ser interessantes do ponto de vista filosófico ou especulativo, mas sucumbem a qualquer tentativa de verificação científica... (nomeadamente desde que os ensaios terapêuticos adoptaram os procedimentos duplamente cegos).
Na verdade, a homeopatia esconde-se por detrás das técnicas de abordagem holística da doença, um problema actual, que foi resumido magistralmente por Alexis Carrel (Prémio Nobel da Medicina) no início do sec. XX: "Não há doenças, há doentes"...
Num Mundo que hoje está enfeudado à Medicina da Evidência (cujos resultados também podem ser "torturados" por motivações económicas) a Homeopatia assume cada vez mais o perfil de uma superstição. E todos sabemos que não possível vender abusões em gotas… (mesmo que infinitesimalmente diluídas) e, empiricamente, atribuir-lhe propriedades terapêuticas.

A única coisa de interessante que pode ser valorizada nesta questão é o “efeito placebo” e toda a controvérsia que (ainda) se move à sua volta, nomeadamente, a inegável utilidade da existência de uma forte “expectativa de cura”.
Mas uma coisa é o positivismo (ligado a essa expectativa), outra - bem diferente - será a “expectativa de vendas” como parece ser o caso da “Farmácia Homeopática de Sta. Justa”…

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides