A vida depois da COVID- 19
O tempo amolenta a aflição, mas, depois do pânico, a vida não voltará à normalidade, e não será igual.
Surpreende-me a ingenuidade ou cinismo de quem pensa que é possível voltar a níveis de consumo e bem-estar a que nos tínhamos habituado antes da pandemia. Com ou sem ela, com o tecido económico rasgado, indústrias perdidas e empregos volatilizados, não é possível, nem desejável, reconstruir um modelo socioeconómico semelhante ao que o vírus destruiu.
Perante a expressão ‘estamos todos no mesmo barco’, recordo o paquete de luxo, Vera Cruz, onde viajámos para Moçambique e de onde regressámos da guerra colonial os que sobrámos. Todos viajámos no mesmo navio, em sítios diferentes, conforme a hierarquia. A 1.ª e 2.ª classes eram luxuosas e a alimentação uma permanente chamada para a mesa, com múltiplas refeições, comidas requintadas, bebidas capitosas e esmerado serviço. Era a 3.ª classe, ampliada em beliches no porão, que, não sendo tão lúgubres como os do Niassa, criava no luxuoso paquete um sinistro subterrâneo, no caso, um antro submerso.
Também nesta pandemia há os que viajam de forma diferente e apenas o vírus e a morte dão alguma democraticidade ao horror que vivemos.
Surpreendem-me os que sonham com o regresso à normalidade, como se os empregos voltassem, a riqueza se recuperasse e a tranquilidade pudesse ser reposta. Como pode alguém pensar em viver de forma igual depois da perda de parte substancial da riqueza?
Não é a redução do consumo que assusta, natural e desejável, é a possibilidade de novas agressões ao Planeta, desrespeito do ambiente e o acentuar das diferenças sociais que a riqueza ampliara e tornara obscenas. É, no fundo, a hipótese de aumentar os lugares no porão para a viagem de Eros a Tanatos que todos fazemos.
Se os objetivos primordiais não forem a defesa do Planeta, dos recursos sustentáveis e da distribuição mais equitativa do trabalho, riqueza e acesso à educação, com garantia da satisfação das necessidades básicas para todos, o futuro ficará irremediavelmente comprometido.
Surpreende-me a ingenuidade ou cinismo de quem pensa que é possível voltar a níveis de consumo e bem-estar a que nos tínhamos habituado antes da pandemia. Com ou sem ela, com o tecido económico rasgado, indústrias perdidas e empregos volatilizados, não é possível, nem desejável, reconstruir um modelo socioeconómico semelhante ao que o vírus destruiu.
Perante a expressão ‘estamos todos no mesmo barco’, recordo o paquete de luxo, Vera Cruz, onde viajámos para Moçambique e de onde regressámos da guerra colonial os que sobrámos. Todos viajámos no mesmo navio, em sítios diferentes, conforme a hierarquia. A 1.ª e 2.ª classes eram luxuosas e a alimentação uma permanente chamada para a mesa, com múltiplas refeições, comidas requintadas, bebidas capitosas e esmerado serviço. Era a 3.ª classe, ampliada em beliches no porão, que, não sendo tão lúgubres como os do Niassa, criava no luxuoso paquete um sinistro subterrâneo, no caso, um antro submerso.
Também nesta pandemia há os que viajam de forma diferente e apenas o vírus e a morte dão alguma democraticidade ao horror que vivemos.
Surpreendem-me os que sonham com o regresso à normalidade, como se os empregos voltassem, a riqueza se recuperasse e a tranquilidade pudesse ser reposta. Como pode alguém pensar em viver de forma igual depois da perda de parte substancial da riqueza?
Não é a redução do consumo que assusta, natural e desejável, é a possibilidade de novas agressões ao Planeta, desrespeito do ambiente e o acentuar das diferenças sociais que a riqueza ampliara e tornara obscenas. É, no fundo, a hipótese de aumentar os lugares no porão para a viagem de Eros a Tanatos que todos fazemos.
Se os objetivos primordiais não forem a defesa do Planeta, dos recursos sustentáveis e da distribuição mais equitativa do trabalho, riqueza e acesso à educação, com garantia da satisfação das necessidades básicas para todos, o futuro ficará irremediavelmente comprometido.
Comentários
disso, num mundo com 7 biliões de humanos, o pensamento a curto prazo, a ignorância e, sobretudo, a ganância, dificilmente permitirão que o regresso a esse abjecto "normal" seja travado. Porém...