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A mostrar mensagens de junho, 2020

O bom e o mau

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O réptil

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O réptil tem a pele grossa e respira por pulmões. Não controla a temperatura. Aquece-se nos média e foge do calor para o ar condicionado do escritório ou da AR. É exímio na arte de se camuflar, mas é um carnívoro que não larga as presas. Põe um cravo na lapela quando lhe convém, e abomina-o se o beneficia. Defende os Direitos Humanos para ter um diploma e serve-se desse diploma para os combater. O réptil é viscoso e repelente, e consegue atrair as presas. O réptil não tem passado, tem fome de futuro. E adapta-se muito bem ao ambiente terrestre. O réptil passa pelas pessoas e parece normal. Psicopatas, marginais e cadastrados veem no réptil a luz que os ilumina, o arauto da nova ordem que germina no ódio à liberdade, o aríete contra as minorias e a democracia. O réptil foi, em Portugal, o primeiro animal a conquistar um lugar na casa da Liberdade, para a combater, fazendo jus à história evolutiva, em que os répteis foram os primeiros vertebrados a conquistarem o ambiente terres

Zé Vitória *– 81.º aniversário

Quando um homem de invulgar gabarito intelectual e cívico, se torna a referência ética e afetiva de qualquer grupo de amigos, estamos na presença de um excelso cidadão que honra todos os que privam com ele. Zé Vitoria, com inteligência rara, sentido de humor inexcedível e simpatia cativante, é das personalidades mais fascinantes que conheci, pela cultura ímpar, inexcedível bondade e irritante modéstia. É um privilégio ser amigo de um homem assim. No dia do seu aniversário fica a mágoa de não o abraçar como merece, de não o estreitar como devia, de não lhe tributar o público testemunho da consideração que granjeou. Deixo-lhe o magoado abraço virtual, o toque de cotovelo a que o coronavírus reduziu as manifestações de afeto. Coimbra, 28/06/2020 * José da Silva Lourenço Vitória é catedrático jubilado do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra

O Banco de Portugal e as eleições presidenciais

Quando se tornaram previsíveis os candidatos às próximas eleições presidenciais sem o aparecimento de alguém com o perfil de Sampaio da Nóvoa que, nas anteriores eleições, mereceu o meu voto, decidi que, no caso de não surgir um candidato idóneo na mesma área, votaria em Marisa Matias. Para um social-democrata sem ligações partidárias, era uma forma de votar na esquerda, resignado a perder uma vez mais as eleições, sem preocupação de escrutinar a excelente eurodeputada, culta, simpática e politicamente bem preparada, e indiferente a que fosse, ou não, social-democrata, trotskista ou maoísta. A coligação do BE com a direita, para impedir Mário Centeno de ser governador do Banco de Portugal, a pressa na criação de uma lei ‘ad hominem’ contra a nomeação do mais competente ministro das Finanças da II República (a ditadura foi uma autocracia), levou-me a enjeitar a intenção que consolidara. Pode alegar-se que a competência, probidade e qualificação que atribuo ao ex-ministro das Finan

São josemaria – 45.º aniversário do seu passamento

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Há 45 anos faleceu monsenhor Josemaria Escrivá, indefetível apoiante do genocida Francisco Franco e fundador do Opus Dei, apoiante dos negócios políticos de João Paulo II, que levaram à falência fraudulenta do banco Ambrosiano e à criação de centenas de santos em Espanha, todos mártires do mesmo lado da guerra civil. Teve uma vida ao serviço de Deus e do fascismo, acompanhou as tropas sediciosas a Madrid, e os seus devotos, a quem indicou o caminho, levaram à falência os impérios Matesa e Rumasa, para maior glória da prelatura e benefício dos desígnios do Monsenhor. Mal refeito da defunção, fez três milagres, mais um do que era necessário para a santidade. O primeiro foi no ramo da oncologia, a uma freira, prima de um ministro de Franco, que morreu curada. Está nos altares e deixou um exército de prosélitos, apto a enfrentar o Islamismo e a subsidiar o Vaticano, onde, depois de dois pontífices amigos, o Espírito Santo iluminou mal os cardeais do consistório e lhes negou o terceir

O padre António Vieira e a iconoclastia

O padre António Vieira, cuja vida percorreu quase todo o século XVII (1608/97), numa época em que a longevidade era rara, é um dos mais lídimos paladinos da língua portuguesa. Os seus sermões constituem a apoteose do barroco na história da literatura portuguesa, o triunfo de um género a que o génio imprimiu a beleza, a coerência e a grandeza com que delicia os leitores, ainda hoje. Vieira usou as palavras como Bernini o mármore e cinzelou-as com o fulgor da erudição e a força das convicções. Quem nunca leu Vieira não entenderá a grandeza do orador e o brilho do pensador que estendeu ao labor epistolar. No campo das ideias, por mais difícil que seja entender como pensava um intelectual há quatro séculos, é consensual que foi defensor dos direitos humanos, na luta contra a exploração dos indígenas, e, mais tarde, contra a Inquisição, de que foi o alvo apetecido, salvo pela sorte e proteção pontifícia de que gozou. Trouxe hoje à colação a figura ímpar do padre António Vieira pela

Concurso de idiotas perigosos

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Apesar da quantidade e qualidade dos concorrentes só 3 puderam ficar no pódio.

OVAR – O azougado presidente da Câmara

O obscuro edil de Ovar, Salvador Malheiro, entrou na geografia mediática depois de se terem registado no concelho numerosos infetados com coronavírus. O seu incitamento à realização do Carnaval de Ovar esteve na origem da violência da situação, e a gravidade maior, fruto da leviandade, foi o anúncio do cerco sanitário no Faceboock, horas antes do anúncio governamental, violando a confidencialidade a que era obrigado e evitando a surpresa, o que permitiu a numerosos munícipes fugirem do concelho e, eventualmente, iniciarem novas cadeias de transmissão da COVID-19. As pessoas facilmente esqueceram estes antecedentes para se fixarem no ignoto autarca que, à falta de notícias, passou a ser presença habitual nos média. Normalizada a situação, passou a figura pública, perito em pandemias, um conselheiro voluntário da Direção Geral de Saúde e do Governo, um crítico que se julga especialista e um político que busca, através da exposição mediática e dos ataques ao Governo, fazer carreira no

Valor da imagem

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A justiça histórica – 1 Há imagens que, no seu simbolismo, são a reparação da iniquidade, a sentença que não foi lavrada, a justiça tardia que as circunstâncias não permitiram em tempo oportuno. Esta imagem é a linha que separa a repressão da liberdade, a democracia da ditadura, o déspota ilegítimo dos governantes que se sujeitam ao escrutínio eleitoral. A foto de Eduardo Gajeiro regista, na apoteose do seu simbolismo, a justiça póstuma ao ditador, uma espécie de bálsamo para as feridas que dilaceraram o País durante décadas e cuja cicatrização se tornou impossível para as famílias dos perseguidos, humilhados, torturados, feridos e assassinados nas masmorras da ditadura ou mortos e estropiados na guerra colonial. A justiça histórica – 2 Em Espanha não foi possível julgar o genocida Francisco Franco e é difícil ainda julgar o rei que foi o rei da corrupção, o iniciador de uma dinastia não sufragada que o ditador impôs ao seu País, depois de formatado nas alfurjas do regime e

O sonho comanda a vida

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A mulher e as religiões

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Que demência misógina levou os patriarcas tribais da Idade do Bronze a impor a metade da Humanidade a subalternidade que castigou a mulher durante milénios e que, ainda hoje, 72 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos, persiste? Não lhes ocorreu que ninguém é livre se alguém for escravo. O que surpreende é a condescendência com a alegada vontade divina, a manutenção dos preconceitos que impuseram a infelicidade e indizível sofrimento das mulheres, como se os algozes não fossem filhos, irmãos, pais e avós das vítimas que querem perpetuar. O mais implacável dos monoteísmos é o paradigma do despotismo e do desprezo contra quem dá aos homens a vida e o amor, e lhes garante a eternização do ignóbil privilégio. 

A Igreja católica e o fascismo

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É ocioso repetir a participação decisiva dos bispos cristãos, católicos e protestantes, para a ascensão do fascismo na Europa, e a cumplicidade da hierarquia católica nas ditaduras ibéricas. O 25 de Abril obrigou os bispos portugueses à discrição que lhes impunha o vergonhoso silêncio perante a perseguição dos raros bispos democratas, António Ferreira Gomes, do Porto, e Sebastião Resende e Vieira Pinto, Beira, Moçambique. Em Espanha, a transição ‘pacífica’ de um genocida para um discípulo real, Juan Carlos, educado na ética e na honra pelos padrões das madraças franquistas, o clero permaneceu fascista e procriou sucessores da mesma estirpe. Nem um módico de pudor evitou que o Papa João Paulo II criasse santos franquistas, ao ritmo a que os aviários criam frangos, e bispos e cardeais com o olho esquerdo enevoado. Sem precisar do Opus Dei, implacável escola do fascismo espanhol, já com dois santos criados, com milagres certificados, bastam os bispos diocesanos para envergonharem

10.º aniversário da morte de José Saramago

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Há dez anos faleceu o Nobel do nosso contentamento, em Tias, nas Ilhas Canárias, onde o levou o azedume a Cavaco Silva, dando relevo a quem não o merecia, e aos 85 anos o aguardou a morte, com o desvelo de Pilar del Rio, o seu último e intenso amor.

A pandemia e os vendedores de ilusões

Ninguém imagina quando, como e em que situação nos deixará a crise em curso, e não faltam vendedores de ilusões sobre o futuro radioso, se outro governo substituir o atual. Habituei-me a não deificar pessoas, mitificar instituições e, sobretudo, a não mistificar a realidade para a adaptar aos meus preconceitos ou desejos. Admitindo que a pandemia terminará dentro de alguns meses, do que duvido, é difícil imaginar que o nível de vida regresse a padrões anteriores, com uma recessão e níveis de desemprego de dois dígitos, seja qual for o governo que vier. Não faltará quem se aproveite da força para exigir a maior fatia possível de proventos, nem quem, com legitimidade, se sinta maltratado em termos relativos, e a justiça social passa mais pela divisão de sacrifícios do que pelo aumento dos benefícios. Se não aproveitarmos a catástrofe natural para tornar mais verde a economia, o trabalho mais dividido e menos desigual a retribuição, não haverá mudanças tranquilas nem paz social dur

Efemérides - 17 de junho

1789 – Paris a caminho da Revolução. Na sequência dos Estados Gerais, juramento na Sala do Jogo da Pela, pelo Terceiro Estado, do compromisso de não abandonar o local até à elaboração da Constituição; 1885 – Chega a Nova Iorque a Estátua da Liberdade, oferecida pela França para comemorar os 100 anos da Independência dos EUA (1776/1786); 1922 – Gago Coutinho e Sacadura Cabral chegam ao Rio de Janeiro, completando a primeira travessia aérea do Atlântico Sul; 1940 – O cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, contraria as ordens do ditador Salazar e começa a emitir vistos de entrada em Portugal aos refugiados de guerra que o solicitaram; 1944 – É constituída a República da Islândia; 1991 – O Governo sul-africano elimina a última lei do apartheid; 1992 – É atribuído o prémio da Associação Portuguesa de Escritores ao romance de José Saramago “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, obra notável, vetada pela iliteracia e espírito censório do Governo de Cavaco Silva, atravé

José Luis Mendoza Pérez (JLM) – A fé e a superstição de mãos dadas

Quando pensamos que a Idade Média terminou há muito, que os espíritos retrógrados se encontram apenas na população inculta ou na demência mística dos talibãs, aparece um reitor de uma universidade católica, embrutecido pela fé e incontinente nas palavras. JLM, empresário, pai de 14 filhos, presidente da Universidade Católica de Múrcia , com a ordem Civil de Afonso X, venera que premeia o contributo social no âmbito da docência, investigação, cultura e desporto, é um troglodita saído do Concílio de Trento, o primata néscio, em delírio, a debitar inanidades. Mendoza garante que a COVID-19 é obra do anticristo, seja quem for tal ser, que povoa a fé do primata que encharcou os mediadores químicos dos neurónios numa pia de água benta. Como Bill Gates previu há cinco anos que a maior ameaça para a humanidade não eram como pensara, as ogivas nucleares, mas os vírus e bactérias, o talibã católico atirou-se ao benemérito patrocinador de uma vacina como a Santa Inquisição a Giordano Bruno,

A COVID-19 e a intervenção cívica

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Por mais anómalas que sejam as atuais circunstâncias e por maior prudência que exijam os nossos comportamentos, não podemos abdicar da intervenção cívica e da luta pelos direitos humanos, sob pena de renegarmos séculos de progresso que moldaram a nossa civilização. O que não podemos é arriscar a nossa vida e a dos outros, alheios às medidas sanitárias recomendadas, como se um novo vírus, que veio para ficar e destruir muitas das nossas conquistas, não fosse um perigo iminente para os nossos direitos e liberdades. Temos de descobrir como conciliar a defesa da cidadania e o cumprimento das medidas sanitárias.

Mário Centeno

Grassa uma onda de ódio partidário contra Mário Centeno, por sair do Governo, para os que não queriam que tivesse entrado, por ser competente, para quem nunca se resignou com o seu mérito, por presidir ao Eurogrupo, para quem considerou uma piada do 1.º de abril o seu prestígio, enfim, uma onda de ressentimento, inveja e vingança contra quem suportou Cavaco e Passos Coelho a vaticinarem a vinda do Diabo e a difamarem o governo PS, porque BE, PCP e PEV o apoiaram, alheios às consequências nos juros da dívida. A saída do ministro, prevista há muito, com eventual ida para Governador do Banco de Portugal, expôs a vileza da inveja, a mesquinhez da vingança e a baixeza do ódio. A pressa de impedir que a personalidade mais qualificada ocupe o lugar para o qual tem perfil, qualificação, currículo e experiência ímpares, é a tentativa tosca de criar uma lei ‘ad hominem’ contra o mais competente ministro das Finanças da democracia. Surpreende que não trema a mão a quem apoiar uma lei, sem p

O escritor e os leitores

O escritor é um lavrador que revolve a terra da escrita e semeia letras de onde germinam as palavras que transplanta para as páginas em branco do livro por fazer. Ora semeia a eito, ora apara os ramos das árvores que nascem da fantasia do cultivador. Dá-lhes as cores e o cheiro, mistura-as a seu gosto e enche o campo de palavras, para as mondar antes de as distribuir num livro ou guardar no disco rígido do computador, se a timidez ou a insegurança o inibirem de as partilhar com os leitores. É o jardineiro que debuxa canteiros onde cultiva as frases que se tornam plantas e darão folhas, flores, frutos e sementes nas árvores derrubadas para serem o papel de um livro. Onde o arado arranha a morfologia da palavra ou fere na frase a sintaxe, o escritor alivia a rabiça e procura um novo rumo para a linha que deseja com a pureza de um diamante e a beleza da prosa que preenche as páginas em branco do livro que há de ser. As palavras ganham vida se a substância das ideias as envolverem,

O pudor fascista

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SIC - N, hoje

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Trump proibiu o estrangulamento. Se não tivesse ouvido pensaria que a notícia era tão falsa como a imagem. Assim, resta.me pensar que o estrangulamento era legal até agora.

A censura no fascismo

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" quando os lobos julgam a justiça uiva..."

10 de Junho de 2020 – Um discurso salvou o vazio da liturgia e do público

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Foto SAPO Não sei se é a nossa mórbida vocação para exaltar a morte em vez da vida, os óbitos em vez dos nascimentos, preferindo os velórios às festas, ou a nostalgia do ‘nosso Ultramar infelizmente perdido’, sem qualquer reflexão sobre a guerra colonial e julgamento sobre os responsáveis, que esvazia de sentido as cerimónias festivas do calendário cívico. O pudor democrático substituiu a designação fascista, “Dia de Camões, de Portugal e da Raça», por “Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas”, e Marcelo dá um ar asseado ao dia que a memória coletiva ainda regista como a exaltação de 7481 mortos, 1852 amputados e 220 paraplégicos, as vítimas da guerra colonial, pelo risível almirante Américo Tomás. Faltou-lhe designar, ao referir os que deram a vida pela Pátria, a quem se referia, se aos que foram mortos pela Pide, aos que tombaram inglória e inutilmente na guerra colonial ou aos que se finaram na aventura de Alcácer Quibir. Foi, no entanto, justo na homen

RTP-1 – A entrevista a Sérgio Moro

O palco dado pela RTP-1 a Sérgio Moro, político oportunista e venal que usou o lugar de juiz de instrução para atropelos jurídicos, conspiração contra a democracia, combate ao PT, que odiava, e prisão de Lula, que temia, foi um ato de indignidade, um frete feito a um corrupto, uma oferenda a um biltre. Quando a televisão pública se presta ao branqueamento de um marginal, à reabilitação do cúmplice de Bolsonaro, sem o interpelar sobre os truques e injustiças que o levaram ao Governo, a RTP torna-se cúmplice do Bolsonarismo, com Sérgio Moro a trilhar o caminho para substituir a criatura abrutalhada que ajudou a eleger e de quem foi cúmplice no Governo.

Fake nus

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10 de Junho

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Sobre o dia de hoje e a comemoração da data que deixou as amargas recordações de 7481 mortos, 1852 amputados e 220 paraplégicos na mais estúpida e inútil das guerras, o «Dia de Camões, de Portugal e da Raça», escreverei amanhã. Hoje limito-me a deixar uma imagem de 2015, como metáfora.

O Brasil ensandeceu

Um amigo acaba de me enviar esta informação: “E há muito mais. É escandaloso, para citar outro exemplo, que o  Conselho Nacional de Saúde  do Brasil tenha recomendado o uso complementar de homeopatia, fitoterapia, florais e reiki para tratamento da Covid-19 e que isso tenha passado sem gerar uma onda de protestos. Ora, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) aceita água com açúcar e passes de magia como terapias, a  cloroquina de Bolsonaro  e o  desinfetante sistêmico de Trump  soam quase como hipóteses científicas.”  (Folha de São Paulo em 9/6/2020).

No Brasil

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Nascer mulher, pobre e negra é uma desgraça individual, mas ser homem, branco e presidente da República é uma tragédia nacional que só a Justiça pode interromper. Ser burro não é apenas uma circunstância, é o esforço de um marginal que procura superar-se.

A força da imagem

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Lembra um político conhecido Conta-se que na tertúlia em que participava Eça de Queirós, este viu um amigo cortar relações porque o escritor se lhe referiu diretamente pela alcunha com que o designavam na ausência: “Cara de Cu”. Eça, para evitar o afastamento do amigo, pediu-lhe desculpa, o que foi aceite, e não mais se falou nisso. Mas, um dia, quando já estavam reunidos os habituais convivas e esse amigo tomava um refresco, com uma palhinha, não resistiu e, à guisa de cumprimento, exclamou: - “Com que então, a tomares o teu clister!”.

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) - 12.º Aniversário

No 12.º aniversário da reunião da 1.ª Assembleia Geral que, em 8 de junho de 2008,  elegeu os corpos sociais da AAP para o primeiro mandato, deixo aqui o Manifesto Ateísta divulgado na sequência do registo notarial, nove dias antes. «Manifesto Ateísta» Na sequência da legalização da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), os outorgantes da respetiva escritura saúdam todos os livres-pensadores: ateus, agnósticos e céticos, que dispensam qualquer deus para viverem e promoverem os valores da liberdade, do humanismo, da tolerância, da solidariedade e da paz. Os ateus e ateias que integram a AAP, ou a vierem a integrar, aceitam os princípios enunciados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e respeitam a Constituição da República Portuguesa. O objetivo da AAP é mostrar o mérito do ateísmo enquanto premissa de uma filosofia ética e enquanto mundividência válida. Porque o ser humano é capaz de uma existência ética plena sem especular acerca do sobrenatural, e porque todas as evi

O PSD, o racismo e o antirracismo

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Na sequência das manifestações portuguesas contra a violência e os crimes de morte do racismo, à semelhança do que aconteceu em muitas outras democracias, podia esperar-se a condenação por motivos estritamente sanitários, não por serem de esquerda, como se o combate ao racismo que corrói a convivência social não fosse obrigação de todos os quadrantes democráticos. O “tweet” de Rui Rio não se insere no legítimo combate ao Governo, na prudência pela limitação dos danos da pandemia, na afirmação de um programa político, é uma afronta a quem é antirracista, um ultraje a quem pretende parar a violência assassina, uma ignomínia de quem é irresponsável ao ponto de considerar o humanismo monopólio da esquerda e a discriminação uma virtude da direita.   

Humor – (Adaptado)

Hoje, já tenho a minha dose de sofrimento, depois de ler o artigo de António Barreto no Público, penitência que me imponho para saber o que pensam os neoliberais, neste caso, um trânsfuga que quis ser ideólogo de todos os quadrantes políticos e acabou ao serviço do radicalismo neoliberal e avençado dos patrões que o fretam. Assim, para substituir os sais de fruto, para mim e para os meus leitores, adaptei um velho texto de humor, ao solípede do costume. Aqui fica: «Numa entrevista para a imprensa, Kim Jong-Un anunciou que a Coreia do Norte ia enviar um homem ao Sol dentro de 10 anos. Um repórter argumentou que o Sol era muito quente; como pode um homem pousar no Sol? A assistência, atordoada ficou em silêncio, mas Kim Jong-Un respondeu: - Vamos pousar à noite ... Então, todos se levantaram e aplaudiram freneticamente. No Palácio do Planalto, Bolsonaro e os seus colaboradores ouviam a conferência de imprensa. Bolsonaro levantou-se e exclamou: - Que tolo, ele não sabe q

A Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP), a Maçonaria e o Opus Dei (OD)

Não é a oposição absoluta ao sindicalismo de magistrados que ora me leva a condenar a campanha do seu presidente, Manuel Ramos Soares, contra a Maçonaria e o Opus Dei. O sindicalista é uma pessoa culta que escreve um português imaculado na sua coluna do Público, e não no Correio da Manhã, órgão próximo das magistraturas. A sua cultura é incompatível com a leveza com que pretende que os juízes declarem a eventual ligação a qualquer das duas instituições, obsessão de quem procura colocá-las no mesmo nível ético e, num caso e noutro, policiar consciências. A única analogia que é possível estabelecer é a de ambas poderem ser frequentadas por pessoas de bem ou perversas, por cidadãos respeitáveis ou delinquentes, como acontece, aliás, com sócios de clubes, membros de confissões religiosas, profissionais de qualquer ramo, sindicalistas ou, até, membros dos órgãos de soberania e do Conselho de Estado. O Opus Dei, de existência recente (1929) e pouco recomendável, não é comparável com a

Federico García Lorca – 122.º aniversário do seu nascimento

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Foi fuzilado pelas costas, aos 38 anos, quando a violência fascista e homofóbica era a norma da Espanha franquista, beata e clerical. A homenagem ao pintor, compositor, pianista, dramaturgo e poeta, é um libelo acusatório ao regime que assassinou a inteligência e regou a fé com o sangue da República.

Quem salva as democracias?

Como se as catástrofes naturais, a explosão demográfica e as agressões ambientais não bastassem para enegrecer o futuro e infernizar o presente, chegaram à chefia dos países mais poderosos do mundo uma série de dirigentes perigosos, nacionalistas, autoritários e belicistas. A China e Rússia, onde a democracia liberal é desconhecida, têm líderes autoritários. Os EUA, Brasil, Índia e Filipinas, em eleições formalmente livres, não lograram melhores líderes. As teocracias do Médio Oriente são o que se sabe. Benjamin Netanyahu, Israel, é um perigo global e Mohammad bin Salman, Arábia Saudita, assassino de longo curso. Quando julgávamos que a impreparação, a truculência e a inanidade seriam punidas nas urnas, eis que surgem, legitimados pelo voto, o mitómano agressivo e belicista Trump, o delinquente imbecil e demente Bolsonaro, o grotesco assassino Duterte e o nacionalista belicoso Narendra Modi. Da Hungria à Turquia, da Polónia à Sérvia, da Chéquia à Albânia, na Europa Central e do L

O dom da ubiquidade

Embora cético, para além de um ser imaginário que me garantiam estar em toda a parte, foi deste frade emigrado, conhecido pelos devotos por António de Pádua ou de Lisboa, conforme o País, e por Santo António, que ouvi falar de semelhante truque. Se, no domínio da metafísica e de outras artes esotéricas, é difícil imaginar que alguém possa estar em dois lados, ao mesmo tempo, milagre simétrico ao de o mesmo lugar ser ocupado simultaneamente por duas pessoas, no domínio da política tornou-se banal. Há quem esteja ao mesmo tempo em todos os canais generalistas da TV, de tal modo que já senti medo de abrir a janela, receando que me entrasse em casa pelo 3.º andar. Mas, se admiro a ubiquidade da pessoa, ainda mais me maravilha a capacidade de falar em nome do Governo e dos autarcas, dos bombeiros e dos incendiários, dos empresários e dos trabalhadores, da saúde pública e das doenças, da ciência e da fé, dos acidentes e da segurança, da culinária e da literatura, dos milagres e dos vír

PSD – A rudeza das palavras e os juízos de valor

Às vezes lamento ter de combater partidos onde tenho amigos cujo pensamento não é sequer antagónico do meu, especialmente o PSD. Quem vê a democracia representativa como grande conquista civilizacional, não pode atribuir o monopólio da verdade ou a fonte de todos os males a nenhum partido, mas há razões para a acrimónia, a suspeição e o combate. Não faço a Rui Rio a ofensa de o considerar igual a Passos Coelho ou de pensar que os militantes se reveem todos em Relvas, Cavaco e Marco António, mas quando Portugal precisa do PSD, encontra-o no lado errado, daquele que a ditadura infetou. Na criação do SNS o PSD votou contra, com o satélite CDS, agora em vias de extinção; na primeira tentativa de descriminalizar a IVG nos casos de malformação fetal, risco de vida para a mãe e violação, com 4 honrosas exceções, votou contra; no planeamento familiar e defesa da saúde reprodutiva da mulher, apesar da coragem e do valioso contributo de Paulo Mendo e Albino Aroso, o PSD esteve quase sempre

Escrever em português

No texto “Os salazaristas e o neofascismo português”, um leitor chamou-me a atenção para as palavras usadas, dizendo que “ou tem seguidores com um enorme conhecimento da língua portuguesa, ou (…) sua escrita é bastante pretensiosa”. Retorqui ao comentário de forma lacónica: “as duas coisas, talvez”. Vejo que foi curta a resposta ao amável reparo e referência às palavras que considerou invulgares, “opróbrio, anacrónica, crocitam, regougam, eructam, negacionismo, homúnculos e arautos”, quase todas usuais numa língua que, por culpa nossa, vai perdendo a riqueza, à medida que nos resignamos a umas centenas de vocábulos suficientes para comunicar. Costumo afirmar que aprendi português até à 4.ª classe com a minha saudosa mãe, uma professora briosa a quem os 7 anos de Latim, que no seu tempo era obrigatório do 1.º ao 7.º ano dos liceus, deram um notável conhecimento. Depois, pouco mais aprendi, a não ser, na História da Literatura Portuguesa, a distinguir géneros literários que os