O dom da ubiquidade
Embora cético, para além de um ser imaginário que me garantiam estar em toda a parte, foi deste frade emigrado, conhecido pelos devotos por António de Pádua ou de Lisboa, conforme o País, e por Santo António, que ouvi falar de semelhante truque.
Se, no domínio da metafísica e de outras artes esotéricas, é difícil imaginar que alguém possa estar em dois lados, ao mesmo tempo, milagre simétrico ao de o mesmo lugar ser ocupado simultaneamente por duas pessoas, no domínio da política tornou-se banal.
Há quem esteja ao mesmo tempo em todos os canais generalistas da TV, de tal modo que já senti medo de abrir a janela, receando que me entrasse em casa pelo 3.º andar.
Mas, se admiro a ubiquidade da pessoa, ainda mais me maravilha a capacidade de falar em nome do Governo e dos autarcas, dos bombeiros e dos incendiários, dos empresários e dos trabalhadores, da saúde pública e das doenças, da ciência e da fé, dos acidentes e da segurança, da culinária e da literatura, dos milagres e dos vírus, do passado e do futuro, enfim, um analista frenético sobre assuntos em que devia conter-se.
Surpreende que defenda de igual modo o SNS e os hospitais privados, as Misericórdias e as IPSS laicas, os colégios e o ensino público, Bolsonaro e a Senhora Merkel, a dr.ª Isabel Jonet e os pobrezinhos, as mercearias de bairro e as grandes superfícies, o confinamento e o desconfinamento, a vichyssoise e a sopa da pedra, os bifes de soja e o leitão à Bairrada.
É preciso muita experiência a rezar o terço dentro de água e grande ecletismo para se ser presidente vitalício da Junta da Fundação da Casa de Bragança e interromper as funções para ser PR a prazo, no intervalo.
É como jurar a CRP, laica, e certificar que as cambalhotas do Sol na Cova da Iria foram milagre e que uma senhora andou a saltitar de azinheira em azinheira, em 1917, como as libelinhas, de nenúfar em nenúfar, nos lagos das cidades.
O dom da ubiquidade é um milagre permanente, mas só os eleitos o obram.
Se, no domínio da metafísica e de outras artes esotéricas, é difícil imaginar que alguém possa estar em dois lados, ao mesmo tempo, milagre simétrico ao de o mesmo lugar ser ocupado simultaneamente por duas pessoas, no domínio da política tornou-se banal.
Há quem esteja ao mesmo tempo em todos os canais generalistas da TV, de tal modo que já senti medo de abrir a janela, receando que me entrasse em casa pelo 3.º andar.
Mas, se admiro a ubiquidade da pessoa, ainda mais me maravilha a capacidade de falar em nome do Governo e dos autarcas, dos bombeiros e dos incendiários, dos empresários e dos trabalhadores, da saúde pública e das doenças, da ciência e da fé, dos acidentes e da segurança, da culinária e da literatura, dos milagres e dos vírus, do passado e do futuro, enfim, um analista frenético sobre assuntos em que devia conter-se.
Surpreende que defenda de igual modo o SNS e os hospitais privados, as Misericórdias e as IPSS laicas, os colégios e o ensino público, Bolsonaro e a Senhora Merkel, a dr.ª Isabel Jonet e os pobrezinhos, as mercearias de bairro e as grandes superfícies, o confinamento e o desconfinamento, a vichyssoise e a sopa da pedra, os bifes de soja e o leitão à Bairrada.
É preciso muita experiência a rezar o terço dentro de água e grande ecletismo para se ser presidente vitalício da Junta da Fundação da Casa de Bragança e interromper as funções para ser PR a prazo, no intervalo.
É como jurar a CRP, laica, e certificar que as cambalhotas do Sol na Cova da Iria foram milagre e que uma senhora andou a saltitar de azinheira em azinheira, em 1917, como as libelinhas, de nenúfar em nenúfar, nos lagos das cidades.
O dom da ubiquidade é um milagre permanente, mas só os eleitos o obram.
Comentários
Excelente !
João Pedro
O que se não se faz por um voto...