A Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP), a Maçonaria e o Opus Dei (OD)

Não é a oposição absoluta ao sindicalismo de magistrados que ora me leva a condenar a campanha do seu presidente, Manuel Ramos Soares, contra a Maçonaria e o Opus Dei.

O sindicalista é uma pessoa culta que escreve um português imaculado na sua coluna do Público, e não no Correio da Manhã, órgão próximo das magistraturas. A sua cultura é incompatível com a leveza com que pretende que os juízes declarem a eventual ligação a qualquer das duas instituições, obsessão de quem procura colocá-las no mesmo nível ético e, num caso e noutro, policiar consciências.

A única analogia que é possível estabelecer é a de ambas poderem ser frequentadas por pessoas de bem ou perversas, por cidadãos respeitáveis ou delinquentes, como acontece, aliás, com sócios de clubes, membros de confissões religiosas, profissionais de qualquer ramo, sindicalistas ou, até, membros dos órgãos de soberania e do Conselho de Estado.

O Opus Dei, de existência recente (1929) e pouco recomendável, não é comparável com a Maçonaria por razões que pessoas medianamente cultas não podem ignorar. O facto de o OD ter aliciado em Portugal como primeiro numerário um ilustre e despolitizado cientista de nível internacional, Prof. Pinto Peixoto, e o político democrata e humanista, Mota Amaral, não altera a génese da organização fundada por Josemaría Escrivá de Balaguer, e não é por pertencer ao OD que alguém é corrupto ou representa perigo para a isenção que se exige a um julgador. A culpa é individual e não coletiva, e não é mais ameaçadora a parcialidade religiosa nos julgamentos da violência doméstica, em casos de adultério feminino, ou o clubismo, em crimes nascidos da rivalidade desportiva, do que a de qualquer outro juiz com défice de formação da personalidade.

O Opus Dei apoiou, desde o início, ditaduras fascistas. A Maçonaria esteve sempre nos movimentos democráticos. O OD foi o esteio do franquismo, e o fundador apoiante do genocida Franco, que teve governos com metade dos membros do OD. Na América do Sul esteve ligado às ditaduras, de Pinochet a Videla. A Maçonaria esteve na origem da independência do Brasil, EUA e unificação da Itália. D. Pedro IV, George Washington e Garibaldi não são comparáveis a Balaguer, Álvaro del Portillo ou ao seu protegido e protetor João Paulo II.

Em Portugal, a Maçonaria esteve na origem da Revolução Liberal, do 31 de Janeiro e 5 de Outubro. Em Espanha, o Opus Dei esteve na vindicta contra os Republicanos e nos escândalos financeiros Rumasa e Matesa e, em Itália, no do Banco Ambrosiano.

As ditaduras perseguiram a Maçonaria, o Opus Dei perseguiu as democracias. A eleição de João Paulo II não teria sido possível sem o apoio do Opus Dei e, talvez, nem a morte prematura de João Paulo I.

Além da tosca associação do Opus Dei à Maçonaria o que leva o presidente da ASJP a lançar o labéu da infâmia sobre duas associações legais, quando uma série de seitas se vão infiltrando na sociedade portuguesa?

E, se ninguém pode ser perguntado sobre a religião que professa, com que legitimidade se expõem associações legais cujas ilicitudes, a havê-las, são assuntos de polícia?

Apostila – O primeiro padre OD, em Portugal, foi o salazarista Hugo de Azevedo, jornalista do JN, execrável reacionário.

Comentários

José Lopes disse…
"O Correio da Manhã um órgão próximo das magistraturas"?
Pura e simplesmente V. não sabe o que diz.
José Lopes,

Talvez saiba. Aliás, qualquer pessoa se surpreende com as notícias oriundas da violação do segredo de Justiça.

José Lopes disse…
O que interessa ao CM é o sensacionalismo e vender. Se para muitas pessoas (a avaliar pela tiragem do jornal, e por estar presente em todos os tascos do país)o que mais interessa são as notícias sobre crimes, processos crimes,etc, é isso que fornece com um estilo adequado à indigência mental de grande parte dos seus leitores. Não muito diferente dos tablóides ingleses.
Tem a certeza que são os magistrados que violam o segredo de justiça?
Dizer que "o CM é um órgão próximo das magistraturas" é uma afirmação gratuita, que não vale a pena comentar.
Dou por encerrado o assunto.

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