Notas Soltas – julho/2020

Rússia – Num país sem tradições democráticas, não surpreendeu que, por entre várias
irregularidades, os russos referendassem as alterações constitucionais que permitem a eternização de Putin, como Presidente, até 2036. Portugal lembra-se do salazarismo.

Francisco Assis – A necessidade de 2/3 dos deputados para eleger o novo presidente do Conselho Económico e Social, levou o PS a designar, para o relevante cargo, o militante preferido do PSD.

Hong Kong – A China rasgou o tratado de 1984, a Declaração Conjunta Sino-Britânica. Xi Jinping, adepto da candidatura de Trump, trai o acordo que garantia as liberdades do território até 2047, e antecipa a instauração da ditadura.

COVID-19 – As incertezas mantêm-se. Pouco se sabe deste vírus, mas é evidente que a pobreza alastra no Planeta e a fome atinge os países mais pobres, sem qualquer garantia de que as desigualdades se atenuem entre países e dentro de cada um.

Moçambique – Os ataques jihadistas, sobretudo em Cabo Delgado, lançam o caos num país fustigado pela pobreza, desordem administrativa e catástrofes naturais. O Islão é a tragédia acrescida que surgiu quando se descobriram as jazidas de gás.

Brasil – A desflorestação da Amazónia, a negação da COVID-19 e a proximidade dos seus filhos ao poder, à corrupção e à marginalidade, são a marca de Jair Bolsonaro, um presidente imbecil e perigoso, que conduz o País em direção ao caos e à anarquia.

PR – A obsessiva intervenção presidencial, comentando tudo, e ao assumir por vezes o papel de porta-voz do Governo, como se fosse PM ou ministro de diversas áreas, não é legítimo, benéfico ou saudável para quem carece de funções executivas.

Timor-Leste – A inclusão no Código Penal de crimes de difamação e injúrias, ofensa ao prestígio de pessoa coletiva, e o de ofensa à memória de pessoa falecida, integra um retrocesso democrático e uma grave limitação à liberdade de expressão.

Mutilação Genital Feminina – Uma mulher foi acusada de submeter a filha, de 2 anos, a mutilação genital. A surpresa e a repulsa aumentam ao saber-se que, em Portugal,  foi “a primeira acusação por mutilação genital feminina”, segundo a PGR.

Turquia – Erdogan transformou, de novo, em mesquita a Aya Sophia, igreja milenar, sucessivamente cristã ortodoxa, cristã latina, mesquita e museu. A herança de Atatürk ficou ferida e o País mais islamizado. O estatuto neutro era o símbolo do secularismo.

Polónia – A eleição do Presidente Andrzej Duda, na segunda e decisiva votação, foi o culminar da deriva antidemocrática e iliberal liderada, desde 2015, pelo partido Lei e Justiça (PiS). O País afastou-se ainda mais da UE e da democracia.

Banco de Portugal – A nomeação do novo Governador, Mário Centeno, com dimensão ética, intelectual e técnica, não foi a notícia. Notícia foi a perseguição, na AR, alheia aos relevantes serviços prestados a Portugal e à União Europeia pelo ex-ministro.

BES/GES – Independentemente do erro político da resolução do BES, as acusações não surpreenderam. Surpresa foi a inocência de José Maria Ricciardi, ex-presidente do BES Investimento (BESI). Ignorava os crimes e colaborou na investigação. Não foi acusado.


Alemanha – A infiltração da extrema-direita nas Forças de Segurança, à semelhança do que sucede noutros países europeus, atinge, pela sua dimensão e perigosidade, um valor simbólico especial e um perigo acrescido para a paz e segurança da própria Europa.

ONU – O apelo dramático de António Guterres à solidariedade internacional, perante o risco da inação em relação à COVID-19, é o grito do humanista para uma situação que pode lançar na pobreza extrema cerca de 100 milhões de pessoas.

Espanha – Juan Carlos, investigado por autoridades suíças e pelo Supremo Tribunal espanhol, por ter recebido pelo menos 65 milhões de euros de um ex-monarca saudita, escondidos na conta de uma fundação num banco suíço, é um risco para a monarquia.

UE – O êxito das negociações foram o compromisso entre o possível e o desejável para a economia europeia. A Sr.ª Merkel, mais uma vez a líder do êxito, é a mais europeísta dos alemães e a mais democrata dos líderes do PPE. Vai fazer falta à Europa.

Escócia – A visita de Boris Johnson e as instruções para cuidados especiais do governo, tentam travar a ascensão do sentimento de rutura que o Brexit e a crise do coronavírus agravaram. As intenções de voto a favor da separação do Reino Unido são de 54%.

Líbia –Pouco se fala da divisão em curso do país vizinho da UE. A guerra civil, onde a Turquia se opõe à Rússia, com ameaças do Egito à Turquia, é um perigo para a Europa, alheada do país retalhado ao gosto tribal e de geoestratégias temíveis para a UE.

EUA – A nova guerra fria, entre os EUA e a China, está a definir a liderança global. De um lado está o instável líder de um país com uma Constituição democrática, do outro, o ditador calculista cuja vontade discricionária é constitucional. E as democracias tremem.

Joe Biden – Se as sondagens se mantiverem, o antigo vice-presidente dos EUA, será o futuro PR e trará alguma previsibilidade e tranquilidade ao mundo. Será um grande PR. Depois de Trump, é fácil.


COVID-19 – Entre abundantes dúvidas quanto ao futuro, as menores são a necessidade de vacina, a certeza da destruição da riqueza e do emprego, os riscos para a democracia e a resistência do vírus às estações do ano. A prevenção do contágio é a única estratégia. 

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Estevão disse…
A propósito do BES/GES, “… O que é feito da famosa lista de jornalistas avençados pelo BES revelada pelo Expresso? …”
in: https://www.clubedejornalistas.pt/wp-content/uploads/2020/07/lentidaojusticaFTM.pdf
Cumpts.

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