Péssimo jornalismo
«Estes são os 18 acusados que cometeram 277 crimes no caso BES»
O título do artigo mais lido, segundo o próprio Jornal de Negócios, é um truque sujo para com os arguidos que todos acusam, independentemente da prova que vier a ser produzida. Não sei se é desconhecimento da língua, do direito ou da ética, ou de tudo junto. A diferença não é uma subtileza linguística, é uma canalhice.
O/a jornalista devia saber que, num Estado de Direito democrático, os arguidos se presumem inocentes até trânsito em julgado da sentença condenatória. Os arguidos não são “acusados ‘que cometeram’ 277 crimes”, são “acusados ‘de cometerem’ 277 crimes”, o que é substancialmente diferente.
O Jornal faz uma acusação, influencia a opinião pública e pressiona os juízes.
Comentários
Tudo isso está documentado, foi já objecto de condenações do Banco de Portugal e da CMVM.
Só por ter posto a nu a extraordinária história da ongoing e do sr. nuno vasconcelos, esta investigação valeu a pena.
Este homem está cego pelo ódio ao MP.
Não é isso que está em causa, é o habitual julgamento na opinião pública. Ninguém, muito menos eu, quer defender os acusados, mas todos, incluindo eles, têm direito a um julgamento nos Tribunais e não na opinião publicada.
E qual é o problema de haver "julgamento na praça pública"? Será que as pessoas que perderam as economias de uma vida por terem acreditado em pessoas/instituições que agora se revela que não mereciam credibilidade, não podem fazer um juízo sobre os factos - que já são conhecidos - e os seus autores?
Deveríamos ter de aguardar o "tempo da justiça", que ao contrário do que pensa o pobre Sr. Rui Rio, em crimes desta natureza é sempre longo, salvo nos países que permitem acordos com o MP (de que é exemplo o caso Madoff), para fazermos a nossa avaliação dos factos?
Ninguém nega aos acusados o julgamento nos tribunais, agora o que não é aceitável é pretender retirar às pessoas o direito de fazer o seu próprio julgamento sobre matéria que não é do foro privado dos acusados mas que interessa à colectividade e sobretudo aos que foram prejudicados com aquelas condutas.
Diferente posição é a de um órgão de imprensa. Ou não acha que este tipo de parangonas, ou pior, as cirúrgicas violações do segredo de Justiça, não apenas condenam antecipadamente os arguidos (culpados ou inocentes) a uma morte cívica, como também influenciam os juízes?
Lembre-se sempre do enxovalho a que foi sujeito Miguel Macedo, que depois saiu ilibado pelo tribunal de todos os crimes e pergunte-se se desejaria que isto lhe acontecesse a si...
A resposta que eu lhe daria foi dada de forma lapidar por Jaime Santos. Seria redundante repetir a argumentação.