O futuro do Governo vem já aí
Há quem inore as cicatrizes da pandemia, com o país a sangrar por dentro e feridas cada vez mais profundas no tecido social.
O medo e a revolta, diariamente explorados e ampliados nos
média, crescem em amplos setores; o desemprego, que já atinge numerosas
famílias, vai explodir; há atividades que morrem; a insegurança aumenta; agravam-se
as desigualdades entre países e, em cada um, entre os cidadãos; o egoísmo substitui
a solidariedade e a competição o humanismo.
Os que disseram que o Governo queria tirar o Natal aos
portugueses são os mesmos que agora dizem que não pode cometer na Páscoa os
erros do Natal. Por cada decisão que o PM anuncia surgem dezenas de
alternativas, todas melhores, com os comentadores do costume a manifestarem a
superioridade das opções que deviam ser feitas.
Fala-se, em linguagem bélica, da bazuca da UE, esquecido o
míssil carregado de fundos que detonou nas mãos de Cavaco, beneficiário dos
acordos de Mário Soares, e procura-se desacreditar a honestidade de quem tem agora
o dever de os gerir.
Há um clima malsão, com ataques ao carácter dos governantes,
a minar a confiança dos cidadãos, para que o próximo Orçamento de Estado seja
rejeitado e o Governo caia para quem for líder do PSD, sem se envergonhar do
apoio do partido fascista.
A partir de 9 de setembro p.f., o PR já pode dissolver a AR,
e os partidos da oposição já podem chumbar o OE, sem perdas eleitorais, como
sucedeu ao BE no OE-21, se houver expetativas de mudança que os beneficie eleitoralmente.
Não seria plausível que este Governo, ou outro qualquer,
pudesse resistir à crise que se adivinha com a hostilidade dos média, dos comentadores
habituais e do próprio PR, que o abandonará quando a colaboração institucional
puser em risco o seu prestígio.
Só o aparecimento frequente de Cavaco e o regresso de Passos
Coelho podem socorrer o Governo do PS graças à merecida antipatia de que gozam.
Se não fosse a erupção do partido fascista encararia a
alternância com bonomia, certo de que, os que resistirmos à pandemia, vamos ser
obrigados a suportar o garrote financeiro que há de vir, tanto mais
injustamente distribuído quanto mais à direita for o governo.
Só espero que a democracia sobreviva e, nisso, a presença em
Belém de um inquilino da direita democrática e a integração na UE são as únicas
garantias, não demasiado sólidas.
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