M. – O PR (2)

Há entre Marcelo e o PR a difícil convivência onde é difícil distinguir o comentador e o PR, o zelador do regular funcionamento das instituições e o ‘agitprop’ que as perturba, o garante da laicidade da CRP e o crente, em voo picado, a oscular anelões episcopais.

Marcelo não falha com a selfie a um colecionador de retratos, com o ósculo a um rosto sofredor, uma venera a um peito inchado, uma declaração a jornalistas que o seguem, o afago a um sem-abrigo ou o auxílio à profissional da caridade que exibe as esmolas que distribui.

Marcelo vai a missas de sufrágio, a fogos e inundações, a banhos a praias, fluviais ou de mar, a funerais e tomadas de posse, a imposição de veneras, e faz declarações a todos os jornais, diários ou de parede, canais de rádio e televisão. Diz o que as pessoas querem e gostam, tem respostas para tudo, e tem outras quando não agradam.

O narcisismo de Marcelo colide com a função, o desejo de consideração choca com a compostura e a avidez de poder com a intromissão nas funções do Executivo e pressão ilegítima na vida partidária do PSD e PS.

O PR não pode chantagear o Governo nem desacreditar ministros, os bons e os maus, ou intrometer-se na vida dos partidos, seja para apoiar Rangel contra Rui Rio ou promover Moedas contra Montenegro. Apenas lhe cabe dissolver a AR, ouvido o Conselho de Estado, sem recados explícitos ou por Conselheiro alheio, se o regular funcionamento das instituições estiver em risco.

Pode até demitir diretamente o Governo se o funcionamento da democracia que ele, PR, perturba, atingir um estado caótico, mas falta-lhe a coragem para assumir consequências de um ato em que a benevolência dos media se pode esgotar.

Quando há duas catástrofes guarda uma em agenda, o que não é grave. Grave foi ir dizer às populações do Baixo Mondego, 'isto não é só a natureza, em Lisboa fizeram asneiras', quando o presidente da Câmara era Medina e o ministro do Ambiente, tinha alertado – e bem –, para riscos de construção em locais inundáveis.

La Palice também diria que as cheias no Baixo Mondego são "um problema nacional" que exige soluções ..., sem precisão de procurar as soluções que exige a’ “os senhores de Lisboa” que estão “sentados à secretária”, para acrescentar em piedosa emoção que “Só vendo é que se tem a noção daquilo que pela televisão já impressiona”.

Já na vigência de um Governo de António Costa, disse que 18 mil milhões de euros para o Estado apoiar o sistema financeiro na última década “não foi uma boa solução”, mas evitou o “colapso da economia nacional”. Afinal, foi má solução ou seria pior o colapso da economia?

O FROB, referiu então que no resgate da banca espanhola eram considerados perdidos 45.640 milhões para o Estado do total de fundos injetados, 58.685 milhões de euros, 4,86% do PIB. Se não era boa solução, seria melhor o colapso da economia espanhola?

O PR teria de afastar Marcelo para cumprir com dignidade o cargo. Compreender-se-á o pungente lamento dos eleitores de esquerda que votarem no PR e têm agora de suportar o resto do seu mandato.

Nota – este texto foi adaptado de outro anterior. Vou deixar para outro dia a apreciação da chantagem que está a fazer com o questionário a que o PM quer submeter os futuros membros do Governo.


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