M. – O PR (3) O CENSOR
Em 1996 ensaiou-se uma tentativa de censura, bem-sucedida. Num programa televisivo, “Parabéns”, Herman José fazia uma brincadeira inofensiva sobre a “Última Ceia”.
Houve uma petição de 100 mil fundamentalistas a exigir
censura. Entre os irados contra a “blasfémia” estava o então líder do PSD que
prestou declarações bem claras à saída de um encontro com o Cardeal
Patriarca...
- Sabem quem era o líder do PSD?
- É o atual vendedor de virtudes domiciliado em Belém que,
hoje, no 118.º aniversário da morte de Rafael Bordalo Pinheiro, cumprimentaria
com o genial ‘boneco’ do criador, se o respeito ao cargo e ao Código Penal não
me o impedissem.
Assim, limito-me a deixar versos de Natália Correia:
MOMENTO DE POESIA – Natália Correia sobre Marcelo Rebelo de
Sousa, «o tal que um dia concorreu a presidente da autarquia de Lisboa»:
MARCELO E AS TÁGIDES
Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso - ó bacanal! -
ao leito húmido das Tágides daninhas.
Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!...
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.
E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.
Outros prodígios - dizem - congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.
Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.
in INÉDITOS 1979/91 – Cancioneiro Joco-Marcelino, POESIA COMPLETA
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