O Humor como alvo de terroristas
Por Onofre Varela
Há dias cumpriram-se sete anos sobre o maior acto terrorista cometido em território francês desde há 50 anos. Em Paris, no dia 7 de Janeiro de 2015, pelas 11:20h, dois terroristas islâmicos fortemente armados com metralhadoras kalashnikov entraram na redacção do semanário satírico Charlie Hebdo depois de matarem o porteiro. Durante dois minutos dispararam a sangue frio contra os jornalistas-cartunistas que ali estavam reunidos na preparação do próximo número do jornal. Logo a seguir abandonaram as instalações deixando 12 vítimas mortais e cinco feridos. Na fuga ainda mataram um polícia e atropelaram um peão.
Neste acto de terrorismo gratuito morreram os jornalistas cartunistas: Charb, Cabu, Tignous, Serge Wolinski e Philippe Honoré. Com eles também foram assassinados o revisor Mustafá Ourrad, os colunistas Elsa Cayat, Bernard Maris e o editor convidado Michel Renaud, mais um guarda-costas do desenhador Charb.
A existência do guarda-costas justificava-se por, quatro anos antes, o mesmo jornal ter as instalações atacadas e incendiadas, tendo os atacantes feito uma ameaça de morte ao desenhador Charb (director do Charlie Hebdo), alegadamente pelo apoio dado ao jornal dinamarquês Jyllands-Posten (que publicou cartunes satirizando Maomé) publicando uma caricatura na capa do Charlie representando Maomé tapando os olhos de vergonha, dizendo: “É duro ser amado por idiotas”.
Esses idiotas continuam a sê-lo. Há idiotas em todos os meios sociais… e alguns até são assassinos!
Na proximidade do aniversário do atentado terrorista ao semanário satírico francês, o jornal espanhol El Mundo, no suplemento cultural La Lectura do último dia 6 de Janeiro, entrevistou o director do Charlie Hebdo, Riss, que foi um dos feridos no ataque de há sete anos, sobrevivendo a um tiro que lhe perfurou um ombro. Riss confessou sentir-se ultrajado pelos advogados de defesa dos terroristas islâmicos que são presos e levados a tribunal, por defenderem a inocência dos terroristas, alegadamente por também eles serem “vítimas das injustiças da sociedade”… colocando os assassinos ao mesmo nível dos assassinados!
Já Charb (o director morto há sete anos) quando do primeiro ataque extremista religioso de que o jornal foi alvo em 2011, disse não culpar os muçulmanos "por não rirem dos nossos desenhos, simplesmente porque eu vivo sob a lei francesa, não da lei corânica”.
Nos últimos oito anos as acções terroristas islâmicas mataram 264 pessoas só em França, incluindo neste número 131 espectadores na sala de concertos Bataclan em 2015.
Na entrevista ao El Mundo, Riss mostra-se pessimista com o evoluir dos acontecimentos naturais e sociais no mundo. As suas preocupações centram-se nos problemas específicos da nossa época, como a liberdade de expressão, as redes sociais, as mudanças climáticas, a insegurança, o desemprego e o bem-estar social.
Entende que as novas gerações não consideram estes tão importantes parâmetros, nem sequer têm a noção de que pode ruir tudo quanto já foi conquistado nos últimos 50 anos. “Há jovens de 20 anos que pensam como gente de extrema-direita de há 30 anos, e o curioso é que essa juventude se reivindica de Esquerdas, não dando conta de que praticam um moralismo ultra-reaccionário!”
É com esta juventude que vivemos, e se os responsáveis políticos não fazem nada para que as noções de liberdade e de opressão sejam perfeitamente entendidas… o nosso futuro poderá ser bastante negro. E quando é um humorista a alertar para este desfecho trágico… o alerta deve ser tomado bastante a sério!
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
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