Ary dos Santos – 18-01-1984 (F.) – 40.º aniversário do seu falecimento
Há 40 anos apagou-se a voz do poeta. Ficaram os versos e aquela sonoridade inconfundível de quem os dizia como ninguém, sons que resistem enquanto for nosso o tempo que tivermos e a memória que nos acompanha dos poemas que escreveu.
Exuberante, intenso, lapidar na forma e na substância com que fez da poesia arma e dos versos balas, Ary dos Santos continua vivo nas canções de Simone de Oliveira, Amália, Carlos do Carmo e Fernando Tordo. E de todos os que amam a poesia.
Retrato do Herói
Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.
Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.
Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.
Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.
Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias'
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