Democracia em risco
A democracia está em perigo. A chegada de antidemocratas às mais altas estruturas do Estado ameaça o Estado de direito democrático.
É urgente recordar a ditadura fascista porque basta a
passagem de uma geração para apagar a memória da repressão, esquecer o que foi
a ditadura e desprezar o salto que o País deu na educação, saúde, riqueza e
liberdade.
Comparar qualquer democracia, por pior que seja, a uma
ditadura, por mais branda que se afigure, é uma iniquidade intolerável.
Às vezes penso que apenas as vítimas recordam ainda os medos
do passado, o pesadelo da guerra colonial, a fome, o analfabetismo, o poder
discricionário da polícia política ou o simulacro de justiça que faziam os
Tribunais Plenários onde não faltaram juízes que se sentiam honrados pelo
convite para tão infamantes funções.
Eram homens sem decoro, biltres com toga, homúnculos
investidos em julgadores, que desviavam o olhar e riam, quando, nas audiências,
os pides agrediam democratas, réus do delito de opinião e da luta pela
democracia.
Eis o despacho de um dos mais sinistros magistrados desses
tempos ominosos, de uma criatura que terá ficado impune, ele e outros crápulas
sem remorsos, hoje defuntos. Para o desembargador Morgado Florindo terá sido o
último, na manhã do 25 de Abril, antes do julgamento que ia ter lugar, depois
de um telefonema direto que fez à DGS:
«Tendo a Direcção-Geral de Segurança comunicado
telefonicamente a impossibilidade de assegurar a condução dos réus a este
tribunal, devido ao Movimento das Forças Armadas, adio “sine-die” o
julgamento».
Não foi a Pide que lhe comunicou, como cobardemente escreveu
o biltre, foi ele que, na sua subserviência, se informou.
Em homenagem a uma vítima abatida a tiro pela Pide, na Rua dos Lusíadas, ilustro este texto com um desenho seu, escultor José Dias Coelho.
Comentários
Atenção que, não concordando com acordos com a extrema-direita, foi o PS que lhe deu importância e presença na televisão, achando que dava cabo do PSD, e com isto está a empurrar o PSD para acordos com o CHEGA.