Nelson Mandela – 10 de maio de 1994 (Texto atualizado)
Há 30 anos, Nelson Mandela, ao tomar posse como presidente da África do Sul, declarou: «Nunca, nunca e nunca de novo esta bela terra experimentará a opressão de um sobre o outro».
Esse dia ficou na História porque a história de uma vida
singular o tornou possível. O pacifista que defendeu uma sociedade democrática
e pluriétnica para um país livre é a maior referência ética africana e das
maiores da Humanidade.
O velho prisioneiro e primeiro presidente da África do Sul
livre, condenado a prisão perpétua, resistiu ao cativeiro 27 anos, e ao ódio e
à vingança o resto da sua vida. Foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz e foi
maior o prestígio para o Prémio do que o deste para o premiado.
O líder da resistência não-violenta da juventude, fora
julgado por traição. Foragido, foi capturado pelo governo racista, em 1962, com
apoio da CIA. O advogado dos direitos humanos entrou num cárcere do regime de
segregação racial e esse prisioneiro, 46 664, tornou-se o símbolo dos que não
desistem de transformar o Mundo, e mudou o país que era coutada só de alguns.
Em 1987, o PM português, Cavaco Silva, mandou votar contra
uma resolução da ONU que exigia a libertação incondicional de Mandela, apenas
ao lado dos EUA, de Reagan, e do Reino Unido, de Thatcher, numa votação que
registou 3 votos contra, 129 a favor e 23 abstenções. Foi a pequenez do mordomo
na raiva comum ao Homem.
Três décadas é o pequeno lapso de tempo passado desde que
Mandela entrou na História pela porta da honra e da glória, mas demasiado
grande na vida de cada um de nós.
O seu exemplo na luta pelos direitos humanos e o
despojamento com que renunciou ao poder criaram um paradigma de combatente dos
direitos humanos e de governante, alterando o curso da história da alegada
supremacia branca.
O Prémio Nobel da Paz de 1993 honrou a distinção com a
dignidade com que exerceu o cargo e o desprendimento com que o deixou. A
grandeza moral de quem perdoou aos carcereiros e aos países que foram cúmplices
são a herança de um homem de exceção e patriota exemplar.
O prestigiado dirigente político (ANC), lutador incansável
contra o apartheid e primeiro presidente negro da Africa do Sul não é apenas a
figura ímpar da África do Sul e de todo o continente africano, é um excelso
cidadão do mundo.
Há 30 anos, no firmamento negro, brilhou uma estrela de primeira grandeza.
Comentários
As políticas de governação do ANC pós-Mandela apenas serviram para criar, em vez da emancipação político-económica dos cidadãos sul-africanos, uma elite negra, rica e corruptamente circunscrita aos interesses económicos da minoria dos dirigentes do ANC, e opressora da maioria dos sul-africanos negros.
Os cidadãos comuns sentem que o sistema “pós-Mandela” serviu apenas para beneficiar uma elite política que desiludiu a maioria dos sul-africanos e minou a autoridade moral que o ANC outrora teve.
Os inúmeros escândalos de corrupção, as desigualdades cada vez maiores a que se junta um nível de desemprego endémico e histórico, fazem com que o ANC esteja em risco de perder pela primeira vez, nas eleições gerais de 29 de Maio, a maioria que detém no parlamento sul-africano.