Notas soltas: Setembro/2011
Notas Soltas – Como prometido, regresso à habitual colaboração no Praça Alta, colaboração interrompida por motivos de força maior. É pena que a prosa reflicta a ansiedade que todos sofremos em vez do optimismo que gostaríamos de sentir.
Casa Pia – Para lá da tragédia das crianças abusadas, há duas dúvidas que nunca serão esclarecidas: se a impunidade é uma inevitabilidade e se a infâmia foi dirigida às personalidades de que as testemunhas se «recordavam» e que depois desmentiram.
Espanha – A renúncia de Zapatero como secretário-geral do PSOE era a decisão que a direita há muito acalentava. Vai deixar o Governo com enorme desemprego e défice, devidos à maior crise das nossas vidas, mas deixa um país mais moderno, tolerante e limpo do lixo franquista.
Magrebe – À colossal manifestação de entusiasmo pela liberdade, incluindo a liberdade religiosa, surge o desânimo com o aparecimento de organizações islâmicas. Não há democracias pias nem liberdades outorgadas pela religião.
BPN – Este escândalo é o mais grave caso português de que há memória em crimes financeiros mas o esquecimento parece ser proporcional à importância dos implicados enquanto o país vai pagando os roubos perante a impunidade dos gatunos.
XVIII Congresso do PS – A eleição de Maria de Belém para presidente do partido consagra-a como a primeira mulher a ocupar o cargo em que substitui o maior legislador do regime democrático – Almeida Santos.
Madeira – A gestão inconsciente de Alberto João Jardim teve a complacência do Governo, do PR e do PSD que sempre se calaram perante o défice democrático e financeiro a que o sátrapa autóctone deve as sucessivas vitórias eleitorais.
Madeira 1 – O buraco financeiro atingiu valores insuportáveis, com a agravante de Jardim ter escondido a fraude das autoridades de supervisão. A autonomia não pode ser tão ampla quanto a irresponsabilidade do prevaricador.
PR – Durante o anterior Governo afirmou que “Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.” Agora preocupa-se com o elevado número de jogadores estrangeiros, em Portugal, enquanto os sacrifícios se tornam intoleráveis.
Passos Coelho – A entrevista do primeiro-ministro à RTP mostrou um homem preocupado que transmitia sinceridade. Já não é pouco num país onde a falta de transparência se tornou um hábito.
União Europeia – Parece haver dirigentes que ainda não compreenderam que a crise não é só grega, portuguesa ou irlandesa, é uma crise global que põe em causa a Europa e a sua moeda e que prenuncia o fim do seu modelo de desenvolvimento.
Vaticano – A viagem papal à Alemanha natal deu oportunidade a Bento XVI para condenar o comunismo e o nazismo mas sem explicar a razão por que a sua Igreja excomungou o comunismo sem tomar igual atitude para com o nazismo.
Impostos – Perante a escalada de que os portugueses são vítimas, não se percebe a isenção do IMI para o imenso património da Igreja católica nem a total ausência de impostos para os seus rendimentos e bens.
França – A vitória histórica da esquerda nas eleições para o Senado, nas mãos da direita desde 1958, é um bom sinal para as eleições presidenciais que se aproximam e constitui um forte revés para o actual presidente e próximo recandidato.
Barcelona – Não foi o amor aos animais ou o horror à violência que pôs termo às touradas em Barcelona – uma decisão digna –, mas sim a onda de nacionalismo da Catalunha que apenas procurou acentuar diferenças em relação a Espanha.
Irão – É o país do mundo com maior número de execuções e onde, segundo o exótico presidente, não há homossexuais mas onde a pena de morte não deixa de lhes ser aplicada.
Rússia – O revezamento de lugares entre o primeiro-ministro e o presidente da República não revela alternância democrática mas, apenas, o poder musculado de Putin, o actual czar do imenso país.
Açores – A visita do PR incluiu dois bagageiros, dois fotógrafos, um mordomo, quatro assessores, dois consultores e um corpo de segurança com, entre outros, dois sargentos, um tenente-coronel, um subintendente e cinco agentes principais. Não se percebe tão onerosa deslocação retribuída pelo «sorriso e felicidade das vacas» da ilha Graciosa.
Educação – Depois de vários anos com os professores colocados sem balbúrdia, o actual ano lectivo começou mal e com a mesquinha atitude do ministro Nuno Crato a retirar o pagamento de 500 euros aos alunos distinguidos com «prémio de mérito».
Regionalização – É importante que os eleitores não confundam a regionalização administrativa, que consta da Constituição e é necessária, com as autonomias regionais que põem em causa a coesão nacional e o cumprimento das leis da República.
Comentários
Temos que começar a bater tambem nos militares que continuam a misturar República com a Santa Madre impondo missas em todas as circunstâncias e infringindo a constituição.Neste âmbito o 25A não mudou nada,e diria mesmo que as coisas pioraram.Falta cá o Bocage.Um abraço para te dar mais força.