Combater o desastre orçamental com: ‘mais do mesmo…’
Pedro Passos Coelho, que reagia ao anúncio dos valores da execução orçamental divulgadas pelo INE relativamente ao primeiro trimestre deste ano, reconheceu que “há mais dificuldades” para alcançar as metas fixadas. “Os riscos significam que ainda temos muito que fazer e muito que trabalhar”, afirmou aos jornalistas em Bruxelas no final de uma cimeira de líderes da União Europeia (UE)… link
Os ‘acidentes’ são, como de resto tudo o que é possível acontecer na vida, muitas vezes, incontornáveis. O desejável, portanto, face à inevitabilidade dos imponderáveis e das múltiplas variáveis (aquilo que Passos Coelho chama ‘riscos’), é tentar prevenir ou, na sua impossibilidade (será o ‘nosso caso’ já que os erros foram ao longo de décadas consumados), parar para pensar, tentar reavaliar e, consequentemente, reequacionar respostas. Os sistemas políticos e económicos devem adaptar-se, serem compatíveis, com a coesão social e com o desenvolvimento. E não ao contrário, i. e., tentar construir a estabilidade social e económica à custa de modelos importados, de fórmulas abstractas e/ou académicas (necessariamente ideológicas) ou de fixidez de objectivos.
O actual Governo optou pela rigidez, pela estreita via (de sentido único) das imposições 'sem alternativas', escolheu a obstinação, sob o lema do: ‘custe o que custar’. É por isso que na actual situação, em que é perfeitamente verificável, para qualquer cidadão, que a execução orçamental está em acelerada derrapagem será difícil aceitar qualquer tipo de fuga em frente. Tal caminho jamais esconderá, ou iludirá, o pesadelo do desastre eminente. Quando muito servirá para ganhar tempo. Mas, como temos a percepção, o tempo disponível para acertar respostas será outro dos nossos grandes deficits.
A hesitação com que o Governo está a tentar gerir a presente 'crise orçamental' - deixando em suspenso inconcebíveis novas medidas de austeridade - rapidamente entrará em confronto com irremediáveis perdas políticas, sociais e económicas.
O agitar de mais medidas de austeridade em abstracto - sem avaliar as responsabilidades que a própria austeridade (medidas adicionais na 'gíria passista') tem sobre o desenrolar do presente descontrolo orçamental - é uma espada de Damocles que impende sobre a tão desejada (e apregoada) estabilidade governativa e poderá ser o início de uma cascata de outros incontrolados ‘desaires’.
Desde logo, as repercussões económicas que gravitam à volta do espectro de uma intensificação da 'espiral recessiva' (uma das causas do presente revés orçamental).
Socialmente, são múltiplas as declarações (de diversos quadrantes políticos) que atingimos, já a algum tempo, o limiar do tolerável quanto ao encaixe de sacrifícios e estamos na presença de ‘níveis sofrimento’ dramáticos (caso das elevadas taxas de desemprego).
Finalmente, a coesão política da actual maioria. A questão da opção do ‘nem mais tempo nem mais dinheiro’ versus ‘renegociação do Memorando’ (que não da dívida) rapidamente se transformará num insanável foco de ‘desentendimento’ no seio da maioria como sugerem nas entrelinhas as declarações do deputado João Almeida (porta-voz do CDS): …"ver se, havendo um reajustamento diferente, se isso justifica ou não também uma ponderação em relação a todo o programa [de ajustamento financeiro]"… link
A púdica ‘surpresa’ do Governo quando confrontado com os penosos resultados e, pior, quando tenta interpretar as (anunciadas) consequências que a excessiva austeridade necessariamente 'provocou' na execução orçamental, não pode ser combatida com ‘mais do mesmo’ ou com o ‘custe o que custar’.
Falta reconhecer - e retirar todas as consequências - que o 'programa' (ou o modelo) falhou, que ‘os factos são teimosos’ e, por último, que a obstinação não é uma virtude (política). É neste impasse que estamos cá dentro.
Do que ‘passou’ lá fora, no último Conselho Europeu, continuamos à espera da necessária informação, algo que acrescente substância à estafada e improfícua figura do ‘bom aluno’...
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