Areosa – Uma paróquia propensa a equívocos (Crónica)
1 – A tourada
(agosto de 2012)
Há três
anos foi a festa à santa errada quando Agosto era mês e a fé estava no auge,
não porque a piedade tivesse crescido mas porque as férias e o regresso dos
emigrantes dão mais colorido às procissões e maior frequência às missas. Este
ano foi a tourada que a Câmara Municipal tinha proibido no concelho, em 2008, na
presidência de Defensor de Moura, e que ontem se refugiou em terrenos rústicos
da freguesia de Areosa, sob escolta policial, enquanto a população, tal como no
caso da santa, se dividiu. Um touro perdeu a paciência e espalhou sucessivamente
os pegadores pela arena. A inteligência venceu a força.
Desta
vez, o confronto entre aficionados e adversários das touradas marcaram o fim de
semana da Areosa. Há três anos foi a festa pia, agora foi a festa brava. É a
maldição do mês de agosto que persegue a Areosa.
2 –
Festas à santa errada (agosto de 2009)
A
paróquia da Areosa, que se avista do alto de Santa Luzia, em Viana do Castelo,
sofreu com a notícia que o padre João Cardoso Oliveira teve a incumbência de comunicar
aos fiéis, num ato inédito, com a urgente necessidade de sacrificar a
santidade por amor à verdade.
A
arreliante troca de uma preposição, pela contração da mesma com o artigo
definido, pode pôr em causa a devoção, o entusiasmo e a felicidade de quem
atribuía à santa as vindimas fartas e a qualidade do vinho.
A santa
devia ser a Senhora “de” Vinha mas,
vá lá saber-se porquê, obra do demo, quem sabe, por equívoco no nome acabou
venerada uma santa que não era a autóctone – uma Senhora “da” Vinha – a quem os devotos passaram a confiar a vinicultura
quando a santa da paróquia, a verdadeira, tinha por vocação a pecuária.
Os
paroquianos reforçavam com ave-marias a eficácia dos herbicidas e procuravam a
sinergia da fé para erradicar ervilhacas, malvas, saramagos, urtigas, gramas,
escalrachos e outras dicotiledóneas e gramíneas que retiram força à cepa e
comprometem a vindima. A vera santa da Areosa tinha competência veterinária e
especialização «ovínea», donde derivou o nome “de vinha”, que em latim se refere a ovelhas e originou o adjetivo
“ovino” do português atual e, por
lapso, rezaram a uma santa errada, padroeira da vinha, que, afinal, protege a
pastorícia.
Durante
muitas décadas os paroquianos fizeram a festa e a procissão a uma santa que tutelava
a pastorícia e veneraram como protetora e padroeira da vinha. Quantos terços,
novenas e missas foram rezados par a proteger do míldio as cepas, e a santa a
pensar na sarna, nos parasitas, picadas de moscas, claudicações, mamites e
outras moléstias que apoquentam o gado ovino!?
Que
utilidade tiveram homilias, festas e orações, para fins agrícolas, dirigidas à
santa que só tinha olhos para os rebanhos? E as oferendas de lavradores que não
tinham ovelhas e pagaram promessas feitas para proteção das vinhas? Quem os vai
ressarcir?
A
Senhora da Vinha dá o nome à igreja
da paróquia e a devoção levou os autóctones a homenageá-la com uma escultura em
gesso que é, nem mais nem menos, uma videira, imune à filoxera mas não à
provação do logro.
Quem
sabe se a santa não continuaria a fazer milagres à altura da fé que se vai
apagando lentamente sem provocar a comoção geral que o padre Oliveira, prior da
Areosa, há 25 anos, terá de gerir!
Ainda
hão de maldizer o professor de História da Universidade do Porto, frequentador
da festa, que se pôs a esgaravatar no Louvre, em Paris, e descobriu uma pintura
do século XIV com a Senhora “da”
Vinha, sem parecenças com a Senhora “de”
Vinha, salvo na virtude que as há de igualar e não se vislumbra a olho nu.
Maldito
o respeito que a Universidade, o Louvre e os professores passaram a merecer e
que ofusca o apreço que às imagens pias era devido, com manifesto prejuízo do
maior bem que a gente simples possuía – a fé. Por ora, não se adivinha o efeito
devastador da investigação histórica, confirmada pelo pároco, na desorientação
de uma paróquia tão piedosa, temente a Deus e orgulhosa da santa que era “de” Vinha e os paroquianos julgaram ser
“da” Vinha.
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