Momento de poesia



Dissertação sobre a natureza das metáforas... 


Dizia um grande filólogo (e cito de memória),
com um certo ar de provocação,
o que irritou os néscios poetas do seu tempo,
que as metáforas apenas podem ser de três categorias,
a saber:

Primeiro: As grandes metáforas, as metáforas geniais,
que são aquelas que podem recriar-se na linguagem
de todas as expressões da Arte,
o que as eleva ao cume da universalidade,
colocando-as assim no patamar superior da eternidade.
É o caso da metáfora do Pássaro Azul,
que já se exprimiu na poesia e que emblematicamente
também aparece na linguagem corporal da dança,
assim como já deu o nome, o corpo e a sua essência
à narrativa de um livro, depois adaptada
à última das nobres artes.
Um cantor também a recriou,
na urdidura do poema com a música.
Até  Pablo Picasso, na aurora da sua fama,
sobrevoou a pintura com os seus imaginários azuis
nos diversos recortes estilizados
de variados significados, os estilísticos e os temáticos.
Com ele, na vanguarda da arte, aquela que abre
caminhos e futuros e derrama uma nova luz,
despertando curiosos olhares sobre as coisas e sobre cores,
a metáfora agarrou, no encantamento da sua  beleza,
a amplitude da sua incólume grandeza.

Segundo: As metáforas vulgares, que são aquelas
que qualquer pessoa utiliza,
e que andam mordidas pelas bocas do mundo.
Aceitam-se e consomem-se.
Até os caçadores de tordos e de patos-bravos,
enquanto cravam os olhos cintilantes de prazer
nas miras assassinas das espingardas,
não deixam de imaginar-se, imitando as aves de rapina,
a rasgar o ar em voos concêntricos, para depois,
em voo rasante, destroçar a presa,
de todo em todo indefesa das ferozes garras penetrantes,
o que também é uma metáfora,
talvez até uma metáfora incandescente de prazer,
que se identifica muito com o desejo irreprimível de matar
e com o orgasmo doentio de ver morrer.

Terceiro: As metáforas inúteis, que são aquelas
que de tanto quererem dizer, nada dizem,
e essas são para esquecer.
Até os seus autores acabam por não as entender.

Alexandre de Castro

Lisboa, Agosto de 2012

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