Coelho e Seguro: roendo a ‘laranja’ … fora da falésia!

Ontem, o líder da oposição, António José Seguro, foi convocado de urgência pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, para uma reunião em S. Bento.
Dessa inesperada reunião nada transpirou para o exterior. link

Decorrendo esta ‘cimeira’ durante o (quinto) período de exame periódico dos representantes da troika ao cumprimento do ‘plano de resgate’ a que o País está submetido, muitas especulações vão pairar no ar. Até porque nas ‘avaliações’ anteriores não existiram destas ‘emergências’.

É obvio que se coloca neste domínio uma questão sobejamente anunciada ao longo do ano e só agora reconhecida. Trata-se de arranjar (concertar) uma resposta para o ‘desvio’ da consolidação orçamental já que falharam sucessivamente as medidas pelo lado da receita, nomeadamente as fiscais. A recessão económica e a contracção do mercado interno acarretaram a diminuição da colecta na sua globalidade, como não podia deixar de ser.
São conhecidas as posições dos dois líderes partidários. Passos Coelho perante a evidência do falhanço continuou a sustentar que ‘não é preciso mais tempo, nem mais dinheiro’ e A. J. Seguro vem desde há muito clamando por mais tempo para consolidar as contas públicas e por mais dinheiro para estímulo da economia e para combater o desemprego galopante.

Será, portanto, de supor que a inusitada 'emergência' significa que a troika não estará disposta a flexibilizar os objectivos orçamentais definidos quando da elaboração do memorando e, portanto, advoga mais austeridade. O 'caminho austeritário’ percorrido esgotou as capacidades e as virtualidades que à partida lhe foram insistentemente atribuídas apesar dos avisos. Não é fácil, nem expectável, persistir nesta via sem colher terríveis consequências (políticas, económicas e sociais). Terá sido esta a imperiosa razão que levou Passos Coelho a convocar de ‘emergência’ A J Seguro. Não é credível que tenham sido dificuldades de elaboração do OGE para 2013. Primeiro, porque o OE estará ainda numa fase de elaboração, depois porque esse orçamento tem de partir de um deficit real (4.5% ou mais?). Todos sabemos que será mais, mas essa será a questão que se segue (lá para o Outono).

O silêncio que envolveu a conferência de ontem não pode deixar de ser interpretado como um sinal de um estrondoso fracasso e do qual resulta esta desesperada tentativa de 'colar' (amarrar) o PS ao anunciado desastre.
A reunião efectuada sob o olhar dos avaliadores (troika) não é auspiciosa para o mínimo de soberania que nos resta. Terá de ser valorizada como (mais) uma encenação e dificilmente como uma tentativa de obter um consenso à volta de 'soluções de convergência' perante as medidas de combate à crise da dívida soberana.
A inexistência de um comunicado ou de uma declaração conjunta no final deste encontro é um acrescido factor de instabilidade para a já crispada situação social.
O que, na verdade, este tipo de gestão política transmite é uma degradante imagem desmoronamento de todas ilusões construídas sobre cenários de coesão e estabilidade (alimentadas lá fora e cá dentro pela coligação governamental) que a médio prazo tornassem viável e exequível um plano de resgate. Na realidade o que está na agenda imediata é que, apesar de um dramático e pesado esforço dos portugueses, tal plano 'mostrou' não ter virtualidades que lhe foram atribuídas. Portanto, não funciona.
O diálogo [necessário] entre Governo e Oposição(ões) tem de ter outras virtudes: ser transparente e inteligível para a generalidade dos cidadãos. Trilhamos um mau caminho quer na resposta à crise quer na busca de 'concertação' interna.
Para obter o resultado conseguido ontem mais valia ter efectuado uma reunião fora dos holofotes dos meios de comunicação social. Isto é, Passos Coelho provavelmente (digo eu!) deveria ter-se deslocado a Porto Covo, jantar com Seguro (que aí estava de férias) e nesse (imaginário) repasto recordar a letra da conhecida canção de Rui Veloso (relativa a essa localidade do litoral alentejano): ‘Roendo uma laranja na falésia…
Porque, tornou-se uma evidência a necessidade de roer a(os)‘laranja(s)’!

Comentários

andrepereira disse…
a receita de Passos/ Gaspar/ Portas falhou e leva o país para a pobreza e endividamento. Eles foram além da troika e tiveram péssimos resultados

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