Linguagem e ideologia
Quem se considera democrata não pode condescender com o uso de palavras que, de tão habituais, deixaram de merecer reparo. As palavras tanto servem para exprimir ideias e narrar factos como para ocultar as primeiras e desvirtuar os últimos, ao serviço de uma ideologia.
A condescendência com a designação de Guerra do Ultramar, como referência à Guerra Colonial, ou antigo regime, em substituição de ditadura fascista, revela uma desatenção à reescrita da História. Quem as usa não é inocente, e quem as tolera torna-se cúmplice. É um artifício semântico para branquear a guerra criminosa que a ditadura impôs.
Ultimamente começaram a homenagear-se os “Heróis do Ultramar”, sob a militância da Liga dos Antigos Combatentes e a cumplicidade de sucessivos ministros da Defesa. Não há heróis do ultramar, há vítimas da guerra colonial. Seria, aliás, injusto que nos 14 anos de sofrimento imposto a 510.134 militares portugueses se excluíssem da guerra inútil as vítimas do outro lado, que se bateram pela libertação dos seus povos, e cujo número se ignora. Todos fomos vítimas do mesmo desvario, da demência fascista da ditadura.
Se acaso anuíssemos à retórica fascista, que Portugal ia do Minho a Timor, não teríamos lutado na ‘guerra do Ultramar’, mas numa guerra civil. Partilho o respeito que merece a geração sacrificada com 7.481 mortos, 1.852 amputados, 220 paraplégicos e um número incontável dos que continuam a sangrar por dentro e a dormir em sobressalto.
Houve atos de generosidade, coragem e humanismo na guerra colonial, incluindo os de quem não tinha formação para questionar a guerra e julgava defender a civilização cristã e ocidental, proclamada pela ditadura e corroborada pelo cardeal Cerejeira.
Também houve essas virtudes em soldados de todas as guerras, nas mais criminosas ou infamantes, e não podem ser celebrados heróis nos países derrotados. Portugal também acabou derrotado, “orgulhosamente só”, ou pior, acompanhado dos governos racistas da África do Sul e da Rodésia, como únicos aliados.
Foi a falta de consciência democrática que permitiu a Cavaco Silva dar pensões a pides, condecorar com a Medalha de Comportamento Exemplar do Comandante do Corpo de Fuzileiros de grau Ouro, já em 2010, Alpoim Calvão, que, após o 25 de Abril, liderou o terrorismo fascista, e reintegrar no ativo e elevar a CEMGFA o gen. Soares Carneiro, o candidato do PSD/CDS a PR, derrotado por Eanes, tendo no seu passado o comando do sinistro Campo de S. Nicolau, em Angola.
Quando adormecem os democratas, despertam os fascistas. Na Alemanha já entraram no Parlamento os que exaltam o heroísmo dos militares nazis, durante a guerra.
A condescendência com a designação de Guerra do Ultramar, como referência à Guerra Colonial, ou antigo regime, em substituição de ditadura fascista, revela uma desatenção à reescrita da História. Quem as usa não é inocente, e quem as tolera torna-se cúmplice. É um artifício semântico para branquear a guerra criminosa que a ditadura impôs.
Ultimamente começaram a homenagear-se os “Heróis do Ultramar”, sob a militância da Liga dos Antigos Combatentes e a cumplicidade de sucessivos ministros da Defesa. Não há heróis do ultramar, há vítimas da guerra colonial. Seria, aliás, injusto que nos 14 anos de sofrimento imposto a 510.134 militares portugueses se excluíssem da guerra inútil as vítimas do outro lado, que se bateram pela libertação dos seus povos, e cujo número se ignora. Todos fomos vítimas do mesmo desvario, da demência fascista da ditadura.
Se acaso anuíssemos à retórica fascista, que Portugal ia do Minho a Timor, não teríamos lutado na ‘guerra do Ultramar’, mas numa guerra civil. Partilho o respeito que merece a geração sacrificada com 7.481 mortos, 1.852 amputados, 220 paraplégicos e um número incontável dos que continuam a sangrar por dentro e a dormir em sobressalto.
Houve atos de generosidade, coragem e humanismo na guerra colonial, incluindo os de quem não tinha formação para questionar a guerra e julgava defender a civilização cristã e ocidental, proclamada pela ditadura e corroborada pelo cardeal Cerejeira.
Também houve essas virtudes em soldados de todas as guerras, nas mais criminosas ou infamantes, e não podem ser celebrados heróis nos países derrotados. Portugal também acabou derrotado, “orgulhosamente só”, ou pior, acompanhado dos governos racistas da África do Sul e da Rodésia, como únicos aliados.
Foi a falta de consciência democrática que permitiu a Cavaco Silva dar pensões a pides, condecorar com a Medalha de Comportamento Exemplar do Comandante do Corpo de Fuzileiros de grau Ouro, já em 2010, Alpoim Calvão, que, após o 25 de Abril, liderou o terrorismo fascista, e reintegrar no ativo e elevar a CEMGFA o gen. Soares Carneiro, o candidato do PSD/CDS a PR, derrotado por Eanes, tendo no seu passado o comando do sinistro Campo de S. Nicolau, em Angola.
Quando adormecem os democratas, despertam os fascistas. Na Alemanha já entraram no Parlamento os que exaltam o heroísmo dos militares nazis, durante a guerra.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários