MOÇÃO CENSURA DO CDS: A Ética, Shakespeare e a Batata…

Shakespeare alimentou literáriamente a famosa dicotomia - ”to be or not to be”.
O PSD entrou numa fase dramática verdadeiramente 'shakespeariana'. Com uma nova direcção que fez gala em anunciar um 'banho de ética' verifica-se que, ao virar da esquina, o que temos é um passeio pelas urtigas.

O PSD parece que foi apanhado na armadilha das suas evidentes contradições. Considera que o voto de censura proposto pelo CDS é ineficaz e foi mais contundente – declarou-o inoportuno. Todavia, veio a público declarar que considera oportuno apoiá-lo com medo de ficar isolado à Direita. 
Para umas coisas é inoportuno para outras não. Estar no Centro e na Direita ao mesmo tempo e à mesma hora é um exercício de prestigiação a não ser que queira fazer mais um entorse semântico à sigla de 'social-democrata'. Uma coisa é social-democracia outra será a Direita. Não vale a pena inventar sobre o que está historicamente estabelecido. É aqui que entra o 'to be or not to be'.

O PSD sabe também o que significa o arreganho de Assunção Cristas e as finalidades que prossegue com este fogo fátuo. Sabe que o CDS face à pulverização da Direita portuguesa (Aliança, Chega e o que poderá estar para vir…) enveredou pela chicana política para dar prova de vida. Mas a crise interna que ainda lavra no PSD – estamos ainda no rescaldo da tentativa de Montenegro – não lhe permite ter uma atitude política coerente e nota-se que lhe falta ‘jogo de cintura’. E resolve alinhar na chicana política apesar de, no terreno da ética política, não ser propriamente a ‘terra prometida’.

A Direita sabe também, pelo menos desde 2015, que, quer o PCP quer o Bloco de Esquerda, estão comprometidos em rejeitar qualquer moção de censura ao Governo PS vinda da Direita. 

Mas insiste na chicana porque razão? 

Está aflita para ‘fazer’ oposição, mas também porque – passados 4 anos – ainda não ‘engoliu’ a solução política encontrada para a presente legislatura. As recentes declarações de Nuno de Melo, candidato da Direita ao PE, confirmam esta situação.
Fosse este tipo de actuação promovido pela Esquerda e teríamos à perna um ensurdecedor alarido de que este tipo de moções significa um desrespeito pelo Parlamento. 

Os portugueses interrogam-se se a Assembleia da República não terá mais do que fazer de que andar a aparar as jactâncias de Assunção Cristas e as suas questões partidárias. 

O CDS é muito escorreito e relapso em afirmar por dá cá aquela palha que: ‘O Estado falhou!’. Neste momento - por alguma razão - cultiva este falhanço no seu próprio terreiro partidário.
Essa razão não foi detectada pelo PSD que aceitou ir a reboque das aleivosias argumentativas do CDS e alinhar numa agenda política alheia.
 
A iniciativa do CDS tem uma indisfarçável finalidade: abrir espaços políticos às forças populistas evidenciando um Parlamento ineficaz e envolvido em formalismos. Não tardará muito a migrar para esse terreno.

É este o verdadeiro sentido e o objectivo significado da moção proposta pelo CDS. E como estamos à beira da época de plantio a ética tornou-se uma batata. 

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