EUA – A derrota de Donald Trump e as oportunidades para a UE
Não foi a vitória de Biden que me empolgou, foi a derrota de Trump que encantou e me fez voltar a acreditar que os EUA são regeneráveis.
Por maiores defeitos que se tenham entranhado no tecido
social de um país de injustiças sociais gritantes, o amor à liberdade e a
coragem de jornalistas, capazes de pararem uma conferência convocada pelo PR, redimem.
Quando Trump debitava mentiras, foram-lhe silenciados os microfones e os
telespetadores prevenidos de que estava a “fazer falsas declarações”. Não foi a
decisão de um jornalista suicida, na própria Casa Branca, foram três cadeias de
televisão generalista, ABC, CBS e NBC. Isto é motivo de esperança.
É surpreendente que um país cuja independência foi
proclamada por agnósticos maçons, fugidos das guerras religiosas da Europa, se
tenha tornado feudo do fundamentalismo evangélico, e que um país, criado por
imigrantes, atinja níveis de xenofobia intolerável.
Por ignorância e maldade, o isolacionista Trump, foi aliado
objetivo de Erdogan, proto-califa promotor de secessões na Europa e na Rússia,
acicatando o Islão contra a unidade da UE e a da Federação Russa, numa casual
ou deliberada coincidência de objetivos.
Um governante não pode ser julgado só pelas guerras em que
se envolve, mas pelas que provoca e consequências geopolíticas que gera. Sem
visão, a política de Trump, dita de paz, foi prejudicial à escala global e
funesta no Médio Oriente. O apoio à Arábia Saudita e os acordos contranatura
que impôs a favor de Israel são mais rastilho de novas guerras do que acordos
de paz.
Após a derrota nazi/fascista, a tragédia europeia consumou-se
com a divisão em blocos, que alimentaram a guerra fria. A cómoda dependência da
proteção militar americana e o alinhamento sistemático da política externa do
Reino Unido com a dos EUA fizeram da Europa ocidental um protetorado dos EUA.
Depois da tragédia do desmembramento da ex-Jugoslávia sucedeu a trágica divisão
da Sérvia e, mais recente, a instrumentalização da Ucrânia contra a Federação
Russa, ignorando que a Rússia, não a URSS, nasceu na catedral de Kiev, tal como
a Sérvia tem raízes no Kosovo.
A Europa beneficiaria se não tivesse hostilizado a Rússia,
que integra o mesmo espaço civilizacional. Tornou-se satélite dos EUA e a
incubadora das bases militares da Nato para a cercar. Ficou sem préstimo
relevante na geoestratégia mundial, apesar de ter um PIB e população superior
aos EUA.
Trump quis dividir a UE, com Steve Bannon a promover o
fascismo e os nacionalismos. A debilidade da Europa não começou com Trump, mas
teve nele um forte entusiasta.
A UE deve continuar a aprofundar a integração económica,
social e política, onde já deu relevantes passos após a pandemia, e criar uma autonomia
diplomática e militar comum, construindo a cidadania europeia, que tanta agasta
sectores de direita e de esquerda, que constitua uma vacina para os
nacionalismos que a corroem e ameaçam.
Espera-se de Biden o fim da hostilidade à UE e apoio à
extrema-direita, a reversão da saída do Acordo de Paris sobre o clima e o regresso
ao acordo nuclear com o Irão, ao apoio à OMS e à ONU, assim como a revisão da
política do Médio Oriente e do apoio incondicional a Netanyahu na Palestina.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Ficaram bem na fotografia, “portantos” ..
Agora, vamos lá ver onde o Biden vai fazer a guerra.
O democrata Obama foi na Libia, Somália, Iémem, pelo menos
O seu antecessor, um tal Bush republicano que seguiu os passos do seu pai, foi no Afeganistão e no Iraque, pelo menos. Ainda de lembro de o ver triunfante a declarar que tinham vencido a guerra contra os talibãs. E por ai fora.
Como ouvi dizer em tempos o José Hermano Saraiva, a propósito do isolamento do Arafat por Israel, isolamento que o levaria à morte, “os EUA são um país bárbaro, um país sem história … “
Dali, eu não espero nada de bom.