O REFERENCIAL – Revista trimestral da A25A
O último número d’ ‘O Referencial’, revista trimestral da
Associação 25 de Abril, julho-setembro, tem como tema de capa “O lado obscuro
do Ministério Público”, excelente reflexão do ex-presidente do Supremo Tribunal
de Justiça, Noronha do Nascimento.
O ilustre jurista, que foi 4.ª figura do Estado português, revela
muitas inquietações, que os democratas sentem, e alerta para os riscos que o
título do seu valioso e extenso artigo deixa entender.
É uma pena que esta revista, apenas distribuída aos sócios,
não esteja à venda nos locais públicos. O texto referido (pág. 8-33) devia
motivar a reflexão de todos os democratas, nomeadamente os que são magistrados
do Ministério Público
Para os não-juristas, deixou uma aula magistral de quem
percorreu todos os escalões da magistratura, e pensa a democracia; para os outros
cidadãos, fica um desafio à reflexão, sobretudo para os legisladores, juristas
ou não.
Uma frase inquietou-me: «O pior que pode acontecer é
qualquer magistrado convencer-se de que lhe saiu em rifa, eleito pelos deuses,
o processo da sua vida”.
O texto do Juiz-Conselheiro Jubilado, Noronha do Nascimento,
“O Lado Obscuro do MP”, é altamente proveitoso. Devia ser distribuído, no
Parlamento, aos deputados.
Respigo da pág. 33 um excerto:
“(...) corremos o risco de termos, na prática, uma
investigação criminal verdadeiramente dirigida segundo o princípio da
oportunidade que o Poder Político sempre rejeitou: o MP investiga ou não
segundo as incriminações que faz ou não, recolhe prova desta ou daquela forma
segundo critérios oportunísticos, numa espiral meia-discricionária,
meia-arbitrária que dificilmente terá controlo.
O MP deixa de ser, apenas, o agente investigatório do crime
e passa a ser, também, um parceiro privilegiado do jogo político.
No fim da linha, quando grandes processos ou megaprocessos
acabam por parir um rato – quo vadis?”
Quem nos acode e defende do poder discricionário? – Pergunto
eu.
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