França aprova lei ‘contra os muçulmanos’
Uma comissão extraordinária da Assembleia Nacional da França aprovou a “carta de valores republicanos”, proposta em 2 de outubro de 2020 pelo presidente Macron para combater o “separatismo islâmico”. As organizações do Conselho de Culto Islâmico da França (CFCM) denunciaram a “carta de princípios”, reiterando a coexistência do Islão com as outras religiões no país.
De facto, o Islão coexiste com as outras religiões, em
França, o que não acontece nos países onde é maioritário e, mesmo em França,
não coexiste com o respeito pelas leis da República, igualdade de sexos e civilização.
O Governo francês apresentou o projeto ao Conselho de
Ministros a 9 de dezembro, no dia do 115.º aniversário da lei de 1905 que
instituiu a liberdade religiosa e a separação entre Igreja e Estado, em França.
Submetido à Assembleia Nacional da França foi largamente
aprovado, apesar de críticas por discriminar a comunidade islâmica e impor
restrições arbitrárias à vida quotidiana de cidadãos islâmicos. O texto, que
reafirma o "respeito pelos valores da República", teve 347 votos a
favor, 151 contra e 65 abstenções, e, a partir de 30 de março, prossegue o seu
processo no Senado.
A nova lei autoriza a intervenção e invasão a mesquitas e
associações responsáveis pela administração, além de controlar as finanças de
entidades e organizações não-governamentais pertencentes a muçulmanos. Em 2004
já a lei proibiu o uso ou exibição pública de símbolos religiosos nas escolas
francesas, e proscreveu o ensino doméstico.
Qualquer das leis não é dirigida ao Islão, visa a defesa da
República e da laicidade, uma resposta à apropriação do espaço público por
manifestações pias, e a defesa da cidadania contra o comunitarismo.
Depois do Senado, serão os deputados da Assembleia Nacional a
ter a última palavra sobre qualquer emenda. Tudo leva a crer que entrará
brevemente em vigor.
O Partido Socialista Francês (social-democrata) considera uma
abordagem repressiva a nova lei, e o grupo esquerdista ‘La France Insoumise’ que
estigmatiza os muçulmanos. É essa cobardia, na procura de votos em autarquias
de grande densidade de muçulmanos que leva à defesa do multiculturalismo contra
a cidadania, à indiferença perante o apelo ao ódio em madraças e mesquitas onde
se recrutam crentes para a Jihad.
A lei impõe neutralidade religiosa aos trabalhadores dos
serviços públicos, protege-os de pressões radicais, e condiciona a concessão de
subsídios públicos ao respeito dos valores republicanos, como o secularismo e a
igualdade de género, às associações que os solicitam. Haverá aqui qualquer
exigência antidemocrática?
Esta lei impede que as regras religiosas se sobreponham à
legislação nacional e defende a penalização da emissão dos certificados de
virgindade e o reforço de controlos contra casamentos forçados que, já proibidos,
afetam atualmente cerca de 200.000 mulheres, de acordo com os números das
organizações não-governamentais. Esta lei é injusta?
A decapitação, em 16 de outubro, do professor de liceu
Samuel Paty, depois de ter mostrado caricaturas de Maomé nas aulas, o ataque ao
Charlie Hebdo, o ataque de Nice, o massacre dos jornalistas do Charli Hebdo e numerosos
assassinatos ao som do grito selvagem Allahu Akbar (Deus é grande), não são
alheios a esta necessidade legislativa, assim como o facto de, desde 2014,
1.500 franceses aderirem ao Estado Islâmico na Síria e Iraque.
Há quem deixe para os fascistas o monopólio da luta contra o
fascismo islâmico, a favor do fascismo católico ou protestante, quem minimize o
perigo para a paz, a democracia e a civilização, ao permitir as investidas beatas
de qualquer religião contra a laicidade do Estado democrático.
O título deste texto, que não consegui mais curto, é
enganador. A lei em que me revejo não é contra os muçulmanos, geralmente as
maiores vítimas da fé que os envenena, é a favor da República e da laicidade, assumindo
a superioridade dos valores civilizacionais sobre a vontade divina interpretada
pelo seu clero, de diversas religiões.
Todos somos ateus em relação aos deuses dos outros. Os ateus
só o são em relação a mais 1.
Fontes: Jornais franceses, espanhóis e portugueses.
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