Política – Marcelo e a perfídia da direita portuguesa
Perante a tresloucada sugestão de um «governo de salvação nacional» feita, com poucos dias de distância e ainda menos escrúpulos de diferença, por Santana Lopes e Alberto João Jardim, julguei tratar-se de provocações de marginais que, conhecendo a CRP, só procuravam a atenção mediática, sabedores de que é notícia o homem que morde o cão.
Um artigo de Ângela Silva (Expresso, ontem, às 19H35),
deixou-me perplexo, e julguei ter regressado aos piores tempos do cavaquismo
quando na Casa Civil do PR, Fernando Lima, em conluio com José Manuel Fernandes,
conspiraram contra o PM de então, com o recado de que Cavaco estava receoso de andar
a ser escutado pelo PM.
A canhestra intriga incluía o Público, onde era diretor JMF.
Desmascarada, virou-se o feitiço contra os feiticeiros. Fernando Lima ficou manchado e Cavaco e José
Manuel Fernandes agravaram a desconfiança que já mereciam.
Desta vez é mais subtil e insidiosa a manobra, mais difícil
de desmontar, é subliminar a mensagem e oculta a torpeza.
Quando a jornalista afirma que “Marcelo Rebelo de Sousa não
vai ceder à pressão dos que lhe pedem um Governo de salvação nacional”, dá a
impressão de que podia ceder e há legitimidade, real ou imaginária, no pedido. E
acrescenta que “(…) além de avesso a Governos de iniciativa presidencial,
entende que compete a António Costa gerir a pandemia e não vai deixar que haja
crises políticas que interrompam este ciclo sem que se perspetivem alternativas
de poder”, como se pudesse ser de outro modo.
Grave, a perspetivar as intrigas que os média, o PR e
partidos da direita podem fazer, é a afirmação, da sua lavra ou de encomenda,
de que “a convicção do PR é que só depois das autárquicas de outubro se entrará
num novo tempo político, com eventual clarificação das lideranças à direita,
nomeadamente no PSD, onde a dúvida é quem levará o partido às legislativas, se
será Rui Rio ou um regressado Pedro Passos Coelho. Também por isso, o
Presidente quer dar tempo (…)”. (Sublinhado meu).
Sub-repticiamente, duvida-se da isenção do PR e promove-se a
queda do Governo e do líder do PSD, com a ameaça da ressurreição do defunto
Passos Coelho, ora catedrático.
Se o PR não denunciar que o que lhe pedem é um golpe de
Estado, está com o silêncio a queimar o Governo que lhe tolerou as intromissões
abusivas e as bravatas, e permitiu à opinião pública pensar que o PM responde perante
o PR e não perante a AR.
Marcelo parece ter começado já o segundo mandato, de que
faltam ainda 4 anos, 1 mês e 2 dias. A tomada de posse é apenas um ato
litúrgico de circunstância, sem pompa.
O que se afirma é tão grave como inventar que ‘o PR não pensa
dissolver a AR até 9 de novembro, para dar origem a um governo diferente’, como
se lhe fosse permitido, até lá, dissolver a AR ou imaginar que haja um governo
alternativo melhor.
O que está em causa é o ambiente kafkiano criado e a persistente tentativa de erosão do governo que enfrenta corajosamente a maior tragédia da vida de todos nós. Não estando a direita preparada para ser governo, é preciso antecipar a queda do governo.
Comentários
Saberemos ou que vem no seu discurso de tomada de posse. O de Cavaco no segundo mandato. deixou claro que declarava guerra ao Governo. MRS não vai fazer tal coisa até porque sabe bem que a fraqueza da Direita e a presente crise representam um seguro de vida para António Costa.
Presumo que teremos mesmo que esperar até depois das autárquicas para ver aonde param as modas.
Ou muito me engano, ou depois do seu discurso de 'análise política' aos resultados da eleição presidencial, a liderança de Rio será uma liderança a prazo, até porque todos esperam pelo 'grande federador' Pedro Passos Coelho, que regressará qual D. Sebastião, para a desforra da defenestração de 2015.
O que eu sinceramente duvido é que, mesmo com todo o cansaço, António Costa vá agora atirar a toalha ao tapete. E BE e PCP já perceberam que nada têm a ganhar com eleições antecipadas. O que se espera é muita cabeça fria por parte da Esquerda, porque esta tormenta vai demorar a passar.
Quando às declarações de morte política deste Governo, elas são capazes de ser algo exageradas :) ...
O seu comentário é uma boa reflexão sobre o atual momento político.
Marcelo não tem o primarismo de Cavaco, é mais subtil nas suas decisões e sabe que um erro, nesta emergência pandémica, podia deixá-lo no estado comatoso em que Cavaco saiu.
Cavaco foi o 1.º PR que acabou o segundo mandato sem que o País o desejasse no cargo.
O que eu não acredito é que Marcelo não use a popularidade a favor da direita quando as sondagens forem desastrosas para o Governo.
Também acredito que Costa não atira a toalha ao chão, mas é melhor a governar do que em campanhas eleitorais.
Boa semana.