O episcopado católico e a moral
Desobrigados da reprodução cujo método tradicional só é legítimo para o matrimónio canónico, e exclusivamente para a prossecução da espécie, os bispos portugueses, castos por obrigação e devoção, dedicam-se à reprodução de valores que já eram obsoletos no tempo em que os publicitavam.
O episcopado nacional onde não se conhece um só prevaricador
sexual, um único caso de cedência às hormonas ou de desvio para pecados piores,
capazes de os frigir a mais altas temperaturas no Inferno, não perde a
oportunidade de manifestar o ressentimento a valores civilizacionais que tornaram
obsoleto o manual da Idade de Bronze que o guia.
O patriarca Clemente, a quem falta a sagacidade e o decoro
do antecessor, é o seguidor do cardeal Cerejeira, embevecido pelos ósculos do
PR a sugar-lhe o brilhante do anelão. A imaturidade cívica levou-o a indicar,
nas últimas eleições legislativas, os partidos em que os católicos podiam votar,
o CDS e o Chega, os únicos que estavam de acordo com a doutrina social da
Igreja católica, segundo o Cardeal, então presidente da CEP.
Sua Eminência não sabe o que é amar, não teve o privilégio
de conhecer o sortilégio do amor, de vibrar numa relação onde o pecado está
ausente e a chama não é a do Inferno em que crê, mas a divina, cujo adjetivo
existe sem substantivo, e pela qual, em êxtase, trocaria a mitra, o anelão e o
báculo.
Se soubesse o que é amar, não explodiria em ódio, não seria
contra a autodeterminação sexual da mulher, não defenderia a criminalização da
IVG, não integraria a procissão de coletes amarelos na defesa de interesses
privados e não estaria agora a apelar ao PR na ofensiva beata contra a
eutanásia, lei equilibrada que regula a despenalização da morte medicamente
assistida, votada com 136 votos a favor, 78 contra e 4 abstenções na AR.
Sua Eminência não sabe o que é amar, e não imagina também o
que é o sofrimento.
Podia, pelo carácter retrógrado, ser protagonista da Ceia
dos Cardeais, mas, faltando-lhe o currículo e o apetite, fica apenas a remoer o
ódio aos direitos individuais. Nem sequer servia para o Dantas.
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