Notas Soltas – janeiro/2021
BREXIT – No primeiro dia do mês, ano e década consumou-se o divórcio litigioso com acordo dificílimo. O abalo telúrico sacudiu a Europa com danos recíprocos, e as ondas de choque de novas réplicas ameaçam a UE que só o incremento da coesão salvará.
Carlos do Carmo – Partiu o talentoso intérprete que
resgatou para a liberdade o género musical a que o timbre da sua voz deu
sonoridade ímpar. Ficou o exemplo de um artista singular e cidadão íntegro que
marcou o fado e a cidadania.
Escócia – Com o Brexit, ainda sem acordos relativos à
Política Externa e Defesa, a PM escocesa, Nicola Sturgeon, deseja a
independência e a adesão à UE, porque o “Brexit” contrariou a vontade da
“esmagadora maioria” dos escoceses.
EUA – Trump pressionou responsável republicano a
alterar resultados na Geórgia: “Só preciso de 11.780 votos”. Esta é a tragédia
das democracias, a possibilidade de levarem ao poder indigentes na ética,
marginais na política e celerados nas intenções.
Luís Santos Veiga – Faleceu um cidadão de rara
coerência e generosidade. Natural do concelho de Almeida, onde todos os anos voltava,
engenheiro e quadro da Marktest, foi um exemplo de lutador na doença, como o
fora sempre nos afetos e convicções.
Irão – O líder supremo, o aiatola Ali Khamenei,
proibiu a importação de vacinas norte-americanas e britânicas contra a
covid-19, exortando cientistas iranianos a desenvolver um composto nacional. O
poder dos clérigos é trágico, até para a saúde dos povos.
Itália – Enquanto decorre o maior julgamento contra a
máfia, em décadas, a situação no Governo degradou-se com a rotura de Matteo
Renzi e a saída dos ministros da ‘Itália viva’. Em período de pandemia, a
instabilidade governativa amplia a apreensão do País.
Alemanha – A saída de Merkel, a maior estadista
europeia deste século, da presidência da CDU, deu lugar à eleição de Armin
Laschet, centrista na linha pragmática de Merkel, que venceu o candidato mais à
direita e defende a continuidade da moderação.
China – Uma missão da OMS foi a Wuhan investigar a origem
da pandemia. A ida dos peritos internacionais coincidiu com o anúncio oficial
da primeira morte por covid, em oito meses. É a primeira investigação por uma
entidade independente do poder chinês.
Trump – O pedido de impugnação pela câmara dos
Representantes, por “incitamento à rebelião” no ataque ao Capitólio dos EUA,
abre a porta às consequências, investigação e condenação. A democracia exige
que a tentativa de sedição seja severamente punida.
Joe Biden – A posse do novo PR, no país mais poderoso
do mundo, em clima de guerra civil, sob proteção de milhares de soldados
fortemente armados, ensombrou a cerimónia emblemática da democracia e feriu a
dignidade das suas instituições.
Portugal – A eleição presidencial, sob o clima de
medo da pandemia, sem campanha eleitoral, com a presença obsessiva do PR nos
média, beneficiou-o largamente, tal como ao candidato fascista cuja encenação
de incidentes fizeram dele notícia permanente.
Brasil – O abrutalhado PR, fascista eleito
democraticamente, fez um discurso a prevenir o país: “Quem decide se povo vive
em democracia ou ditadura são as forças armadas”. Depois de Trump, a sua saída
é uma exigência da democracia e salubridade política.
Covid-19 – A situação atinge tal dramatismo que tudo gira
à volta desta pandemia sem precedentes, onde a economia, as finanças, os
empregos e as liberdades soçobram numa espiral de luto e impotência, na guerra
contra um inimigo invisível.
Rússia – A prisão de Alexei Navalny, o principal
opositor do regime de Vladimir Putin, no regresso da Alemanha, após cinco meses
de tratamento ao envenenamento, mostra a incapacidade russa de adesão a
princípios democráticos.
Eleições presidenciais – A reeleição do PR, que
aconteceu sempre em democracia, veio confirmar a popularidade de Marcelo, com
mais de 60%, só ultrapassada pela de Mário Soares. Além das felicitações, merece
o respeito devido a quem defende a Constituição.
Extrema-direita – O líder de um partido fascista, candidato
a PR, com quase 12% dos votos expressos, mostrou que o salazarismo está vivo,
no entusiasmo suscitado por um aventureiro perigoso e marginal, hábil a
explorar o medo, o racismo e o ódio.
Iniciativa Liberal – A oportunidade do neoliberalismo
parece estar adiada, tendo o seu candidato a PR, Tiago Mayan, ficado colado a
Vitorino Silva, um candidato simpático, impreparado e sem ideias, ambos
próximos dos 3%.
Himalaias – O conflito fronteiriço entre a China e
Índia, países com 40% da população mundial e 2.658 km de fronteira comum, tem
aumentado a tensão. O perigo de guerra e o centro de gravidade da economia
mundial caminham para esses países.
Revolução Liberal – O dia do seu bicentenário, 27,
foi ensombrada pela pandemia, o que impediu a celebração do fim do absolutismo
monárquico. É, com o 5 de Outubro e o 25 de Abril, uma das três datas gloriosas
do dicionário da Liberdade, em Portugal.
CDS – O partido que integrou a participação
democrática dos eleitores salazaristas está a desmoronar-se e, provavelmente, a
desaparecer. Perdidas as referências de Freitas do Amaral e Amaro da Costa,
está à deriva, com o eleitorado de regresso ao fascismo.
Polónia – O governo autocrático, xenófobo e misógino despreza
o Estado de direito, a separação dos poderes, os direitos humanos e as
conquistas civilizacionais. O regresso da proibição da IVG, em casos de
malformações fetais, é a execução da agenda beata.
Eutanásia – Enquanto na Polónia os direitos
individuais recuaram, Portugal aprovou na AR uma lei equilibrada sobre despenalização
da morte medicamente assistida, com 136 votos a favor, 78 contra e 4
abstenções.
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