O que é isso de “Governo de salvação nacional?”

A direita democrática anda em polvorosa, lacerada por quezílias tribais no seio dos seus partidos, sem lideranças que parem a hemorragia que engrossa as fileiras da extrema-direita, esgoto da ditadura, onde agora desaguam marginais, oportunistas e delinquentes.

A culpa da integração do partido fascista no sistema democrático foi do PSD, na pressa e ambição do líder açoriano, sem esperar que se rendesse sem nada receber em troca.

Rui Rio, sem autoridade e visão política, delapidou aí o prestígio granjeado na vitória sobre a tralha cavaquista de Passos Coelho, e agravou o desnorte no patético discurso da eleição presidencial, a rejubilar por o partido fascista retirar votos ao PCP, no Alentejo, sem se dar conta de que era o seu próprio partido a sofrer a maior hemorragia.

O CDS, condenado a ser satélite do PSD, está em vias de se transformar num meteorito, a desaparecer na atmosfera das próximas eleições legislativas.

É nesta situação de desânimo e rancor que a direita ataca a credibilidade de tudo o que o Governa faz, indiferente à pandemia, sem avaliar as consequências da maior tragédia que atingiu a Humanidade. Espera, na insidiosa campanha, destruir um Governo para o qual não tem alternativa, e impede consensos para a luta eficaz contra a pandemia.

O ambiente malsão levou os corifeus da direita democrática a pôr em causa tudo e o seu contrário, a condenarem as concessões natalícias, que tinham defendido com ameaças e insinuações de que Costa queria roubar o Natal, para agora ficarem mudos quando estão em causa o Carnaval e a Páscoa.

Mas a mais tola das ideias, “um governo de salvação nacional”, havia de surgir de dois figurões que cursaram Direito na vigência da Constituição de 1933. É evidente que tão grande despautério havia de ser aproveitado pelos média, redes sociais e comentadores que fazem pela vida a comentar não assuntos.

O PR, com bom senso, afirmou que “Temos de continuar a apoiar os que sofrem (…), tudo sem crise política, sem cenários de governo de unidade ou de salvação nacional”. Disse tudo, e a ideia de que a inanidade de Santana e Jardim era possível ficou ainda a pairar em quem não reflete, ou não sabe, que não há governos de iniciativa presidencial.

Dizer “sem cenários de governo de unidade ou de salvação nacional” é tão irrisório como dizer “sem cenários de nomeação de juízes para o Supremo Tribunal de Justiça”.

António Barreto, um liberal provinciano, trânsfuga de todos os partidos e frequentador assíduo dos painéis de comentadores, com coluna semanal no Público, onde zurze tudo o que está à esquerda do PSD e à direita do CDS e IL, afirmou aí, na sua última homilia, que “Dado o afastamento dos governos de iniciativa presidencial e de unidade nacional, as hipóteses são conhecidas: esquerda contra direita? Bloco central?” Pois…, óbvio.

Parece ficar a dúvida de que era possível e de que a direita melhoraria a governação se entrasse no governo, insinuando que este não presta. Mas a direita faria melhor?

Só me surpreende que sejam pagas tão tolas insinuações, só para darem tempo a Passos Coelho para regressar de Alcácer Quibir, com ou sem nevoeiro, em qualquer manhã.

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