A esperteza venenosa da direita
Com regularidade mensal, frequentemente semanal, são publicadas sondagens exóticas, de encomenda, que passam sem escrutínio dos cidadãos e envenenam a opinião pública.
Há certamente uma central de intoxicação que, dispondo de
verbas avultadas, se dedica a fazer perguntas supostamente inocentes,
claramente imbecis e objetivamente tóxicas.
Há pouco tempo, um inquérito de opinião concluía que a
maioria dos portugueses quer o PR mais exigente com o Governo no segundo
mandato. Era um recado e um apelo.
A que propósito e com que fim se faz uma tal pergunta?
Certamente que um inquérito a respeito dos impostos daria maioria aos que
pretendem baixá-los, outro sobre o aumento de pensões teria a aprovação da maioria
e, talvez, um sobre a inutilidade do Parlamento saísse vencedor. Um destes dias
pode perguntar-se, com idênticos resultados, se devia ser o PR ou a AR a formar
governos.
Não adianta explicar que perguntas dessa natureza apenas
visam afrontar a Constituição e legitimar perante a opinião pública, a
ingerência do PR nos assuntos do Governo, se acaso for esse o seu desejo ou conveniência.
Não são as respostas que surpreendem, é a insidiosa manobra
que perturba, a iniquidade da sugestão que corrói a democracia, a insistência
em sondagens de opinião que ferem a Constituição que desmoralizam.
É impossível desmontar todas as artimanhas de uma direita que,
sem rumo, sem projeto e sem vergonha, ganha tempo a espalhar a dúvida, a danificar
instituições e a difamar quem dá o melhor de si para enfrentar a situação
terrível que se abateu sobre o mundo e, em particular, sobre Portugal. Isto não
é escrutínio, é intriga. Baixa e sórdida.
A ação deletéria não prejudica apenas o Governo, cria a
cizânia entre os portugueses, a dúvida nas instituições e a descrença no
futuro. Só aproveita a quem procura na lama o húmus onde medra o extremismo, o
ódio e a revolta.
É mais aliciante ouvir opiniões de néscios do que refletir
sobre explicações dos sábios.
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