25 de Abril – Viva o 25 de Abril! (Texto atualizado)
Tecendo a manhã de todas as esperanças, o MFA fez raiar a mais radiosa de todas as auroras naquele distante ano de 1974. Abril era mês e 25 o dia resgatado do calendário para o sonho coletivo da liberdade, com cravos floridos nos canos das espingardas.
Nunca uma revolução fez tanto, em tantos séculos de país, para, de um só golpe, abrir prisões, derrubar a censura e abrir as portas da democracia. O 25 de Abril não é um dia, é o dia da História e das nossas vidas, o dia inapagável que traçou a baliza e a marca, o antes e o depois, do cárcere à liberdade, da ditadura à democracia, da guerra à paz.
Foi o dia em que os capitães, que fizeram a guerra, impuseram a paz, numa epopeia em que a coragem de um dia resgatou do opróbrio da ditadura um povo amordaçado.
Ao comemorar os 47 anos da data que os democratas trazem no seu devocionário, na mágoa de saberem os que o traíram, alérgicos ao cravo e ao povo que os elegeu, recordamos a gesta heroica dos que arriscaram a vida para nos devolverem o direito a decidir o destino.
A guerra colonial, o analfabetismo, a discriminação da mulher, a censura, a repressão, os cárceres e a Pide são o pesadelo que só habita a memória dos mais velhos, mas já se assiste ao regresso e agressividade dos notálgicos da ditadura, dos ingratos e traidores.
Portugal espera que o 47.º aniversário seja, na contingência das medidas sanitárias, um grito de esperança de novas madrugadas, como aquela em que o MFA nos legou o direito ao sonho e à liberdade, e sirva de opróbrio a quem conspira contra a democracia.
Na ditadura, o País não era a casa comum dos Portugueses, era a cela coletiva dos que não fugiam. O 25 de Abril transformou Portugal. Tanto tempo nas nossas vidas, tão pouco na história de um povo. Urge perpetuar o espírito de Abril.
No sonho de outras manhãs que nos libertem do medo e incerteza que ora nos oprimem, do pesadelo da pobreza, do desemprego e da vingança contra Abril, deixo um poema do poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto:
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(João Cabral de Melo Neto)
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