Violência doméstica

Das 265 páginas do “Relatório anual de segurança interna”, publicado em 31 de março, os crimes de violência doméstica são o primeiro dos crimes (pág. 57) e, sobretudo de predominância masculina, sendo os homicídios respetivamente de 87,8% e 12,2% (pág. 60).

A especial incidência da violência doméstica (23 mil casos), num país onde a totalidade dos crimes não ultrapassam a média europeia, merece análise sociológica este tipo de crime que nos coloca entre os países mais violentos da Europa, com o assassínio de 27 mulheres, 3 homens e duas crianças, redução de 10% em relação a 2019, a atingir a forma mais grave e dramática.

Os crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual e a violação, especialmente de crianças, constituem no contexto da violência doméstica uma patologia particularmente preocupante a desmentir a alegada brandura de costumes que o fascismo propalava.  

Pese o facto, assinalado no Relatório, “de se registarem em 2020 os valores mais baixos de sempre de criminalidade participada desde que há registo nestes moldes, o que constitui uma retoma da tendência de decréscimo verificada desde 2009”, os valores e o tipo de criminalidade são ainda deveras perturbadores.

Não sei se a herança da ditadura, com elevados índices de analfabetismo, quase 40%, a Reforma, a Inquisição e o regime clerical-fascista ainda pesam na tipologia dos crimes atuais, mas, seja qual for a origem.

Basta, para vergonha da Humanidade, o ónus maior que cabe às mulheres, por atavismo, nos trabalhos domésticos e na remuneração de trabalho igual, para ainda serem vítimas da crueldade dos companheiros.

Bastam os escolhos maiores que se lhes deparam à partida no percurso da vida.


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