O enriquecimento ilícito e a demagogia
Não deve haver ninguém, incluindo corruptos, que não afirme ser a favor do combate à corrupção, mas são poucos os que, pautando-se por elevados padrões éticos, são capazes de resistir à demagogia.
Quando se afirma que o PR apoia a criminalização doenriquecimento sem justificação, fica-se na dúvida se se trata de um truísmo
banal, comum à generalidade da população, ou da aceitação, por um jurista de
reconhecido mérito, da tentativa de inverter o ónus da prova, subvertendo as
regras do Estado de direito democrático.
Se é a segunda hipótese é um lamentável ato de demagogia,
uma capitulação perante os baixos instintos das turbas, que procuram a justiça
popular, o linchamento dos políticos e o regresso a um Estado policial.
Não faltam leis para punir as fraudes e corrupção que
originam o enriquecimento ilícito, faltam talvez investigadores competentes e um
sistema judicial determinado a punir os infratores em vez de os escolher.
O fim do sigilo bancário e dos paraísos fiscais combatem
melhor a ocultação da riqueza do que quaisquer leis que representem uma
regressão civilizacional e um atentado aos valores constitucionais.
O regresso ao fascismo, durante décadas de forma mansa, já
se afirma de forma ruidosa. O apelo ao ódio à política e aos políticos é o retorno
salazarista que teve no cavaquismo o início e a sua versão pacóvia.
Se o PR aceita que caiba ao suspeito, seja qual for o crime e a condição social do autor, a prova da inocência, e não aos Tribunais a determinação da culpa, é um lamentável ato de capitulação perante a central de intoxicação da direita e do uso da demagogia ao serviço do narcisismo.
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