Quem cuida do português?

Mantem-se o azedume contra o Acordo Ortográfico, pessoas zangadas com a ausência de umas consoantes mudas e uns hífenes, incapazes de se resignarem à norma legal que, há alguns anos, é obrigatória nas escolas, e, no entanto, toleram tropeções ortográficos e prevaricações de vária ordem.

Há anos que a falta de cuidado com o idioma deixou de ser apanágio de pessoas pouco instruídas e atingiu todas as classes sociais.

A facilidade com que se diz «há anos atrás», como se pudesse dizer-se ‘há anos à frente’, atingiu o primeiro-ministro, o Dr. Rui Rio, o Professor Passos Coelho e, até, o conselheiro de Estado, Marques Mendes, que nos ataques ao Governo repete, há anos atrás, há anos atrás, o ministro Fulano disse (…).

Hoje o mais ouvido intriguista da direita, provavelmente em diferido, dizia na SIC-N que uma qualquer secretária de Estado «há um ano atrás», «há um anos atrás» teria afirmado qualquer coisa que o Governo não cumpriu.

Marques Mendes não é tão primário como o PM de quem foi ministro, não tropeça no verbo ‘fazer’, nem mesmo nas formas verbais do verbo haver, mas não resiste a dizer «há anos atrás» como os iletrados dizem «subir para cima» ou «descer para baixo».

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