Sobre Otelo e as suas circunstâncias

 Vale sempre a pena ler Carlos Matos Gomes, militar de Abril, quer como historiador, escritor ou pensador, mas é imperdoável não ler o que escreveu sobre Otelo.

«Minhas amigas e meus amigos, com os habituais pedidos de desculpa pela intromissão. Este é o 3º texto e último sobre o que penso a propósito das reações à morte de Otelo Saraiva de Carvalho e que são mais do que uma apreciação a Otelo, um retrato de nós, dos portugueses, como eu os vejo.

Aqui fica o link, se tiverem paciência paro o abrir e um anexo em Word.

Com os votos de boa saúde e elevada consideração

Carlos Matos Gomes»

https://cmatosgomes46.medium.com/mas-92552ffadc29

Comentários

Jaime Santos disse…
Lamento, mas não posso de todo subescrever o texto e quero lá saber se depois dizem que eu pertenço ao lúmpen bem apessoado e bem na vida, ou lá o que é.

As derivas de Otelo durante o PREC são compreensíveis e podem perdoar-se (exceto talvez o PCP que não perdoa à Extrema-Esquerda ter-lhe estragado o arranjinho).

O que não se perdoa é a ligação às FP-25 pela qual foi condenado (a amnistia não permitiu que os tribunais superiores se pronunciassem, pelo que fica o libelo acusatório dos juízes da primeira instância que consideraram provada a sua ligação a uma organização terrorista).

É que com essa atitude, Otelo procurou impor um outro regime, quando a larga maioria da população apoiava e apoia esta democracia de regras, imperfeita, em que vivemos. E que, imagine-se, até protege o direito à propriedade.

A único exercício de soberania que eu conheço e que não é sujeito a manipulação à vontade de uma qualquer elite (e basta olhar para a mediocridade das elites dirigentes dos Países do socialismo real para ficarmos estarrecidos com essas elites alternativas) é o do sufrágio direto e universal. E foi esse exercício que Otelo quis pôr em causa.

Merece um homem assim honras de Estado? Claro que não merece, merece o seu lugar inequívoco na História como a parteira da Liberdade, mas não mais do que isso. Só foi pena que o Governo não tenha assumido esta como a razão para não declarar o luto nacional, e não a desculpa esfarrapada que outros, mais merecedores do que ele, como Melo Antunes, não a tiveram.

Ainda ouvi dizer que se Spínola a merecia, também a merecia Otelo. Não, o infame brigadeiro da Operação Mar Verde, que levou ao recrudescimento da ofensiva do PAIGC e que depois proibiu a retirada de Guilege, tendo a Marinha que retirar soldados do lodo à socapa (o oficial responsável nunca viu reconhecida a sua ação porque um ato heroico não pode provir de uma insubordinação, mesmo que seja para salvar os camaradas), o arquiteto do MDLP e que queria ele próprio invadir Portugal, seguramente que não merecia tais honras e não se corrige um erro cometendo outro.

Infelizmente, há ainda uma certa Esquerda que depois do número incontável de vítimas causadas pelo terrorismo da ETA, das Brigadas Vermelhas e do IRA, e das 17 vítimas mortais das FP-25, uma delas um bebé de tenra idade, ainda continua a queimar incenso no altar da violência revolucionária. Como eu sempre digo, se o sofrimento dos outros não os compadece, deveriam ao menos lembrar-se do destino de Maximilien Robespierre!
Monteiro disse…
Do que eu gostei mais foi de ver o cónego Melo em cuecas no aeroporto de Lisboa em fuga para o Brasil. Obrigado Otelo por me teres proporcionado uma das mais hilariantes imagens da nossa História. Também gostei muito dos gabarolas fascistas publicarem, cheios de medo, nas páginas dos jornais a declaração de que nunca tinham sido da PIDE, antes que o povo lhes lixasse a casaca que já tinha sido virada e revirada várias vezes. A nossa Revolução teve momentos muito hilariantes. Aqui o comentador Jaime Santos é capaz de não estar de acordo comigo porque parece ser pessoa mais séria e especialista em revoluções e conhecedor do terreno da Guiné ou por experiência própria ou por lhe terem contada, como lhe disseram ou talvez tenha lido o nome completo de Robespierre, que sapiência!. Maximilien Robespierre? Parabéns.
Jaime Santos disse…
Sabe Monteiro, se reduz a nossa Revolução a esses momentos hilariantes, melhor para si. Mas sucede que, está a ver, morreu gente às mãos do Fascismo, morreu gente às mãos da Extrema-Direita após a Revolução e pasme-se, morreu gente às mãos das FP-25.

Otelo pode ter ficado com aquela imagem do gajo porreiro (e algo simplório) que até criou engulhos a personagens sinistras como o dito cónego Melo, sucede que a nossa Revolução e a subsequente consolidação democrática não foram meros episódios cómicos dos quais nos podemos rir muitos anos depois. É, morreu gente. E a isto eu não acho manifestamente graça nenhuma.

Os leninistas de sofá gostam todos de se rir muito, são gente muito bem disposta, ele é pá isto e pá aquilo. Sempre queria ver o que sentiriam se tivessem tido familiares mortos pelas FP-25...
Jaime Santos disse…
P.S. Quanto à minha suposta sapiência, pensava que toda a gente sabia que Robiespierre era Maximilien, tal como um tal de Bonaparte era Napoleão... Mas confesso, googlei para me certificar da ortografia... Aconselho-lhe a que faça o mesmo...

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