O Nobel que falta e as facadas que sobram

O escritor Salman Rushdie continuava hoje hospitalizado após o esfaqueamento no palco do centro cultural Chautauqua Institution, em Nova Iorque, onde iniciava uma conferência.

Se há quem sofra escusadamente é a população islâmica, vítima de preconceitos religiosos e impedida da apostasia, direito inalienável das democracias e crime punido com pena de morte nas teocracias.

Os monoteísmos baseiam-se em textos bárbaros, uma herança hebraica de origem tribal e patriarcal. Paulo de Tarso, na sua cisão com o judaísmo, havia de criar a seita à qual Jesus foi alheio, tendo nascido e morrido judeu e circuncidado. Por razões políticas, foi o execrável Constantino, que a si próprio se designou 13.º apóstolo, que, sem abdicar do mitraísmo, fez da seita cristã a religião que aglutinou o Império Romano.

O ódio aos judeus vem daí, esse ódio que os trânsfugas consagram à ideologia ou grupo de onde dissidem. O antissemitismo é filho desse ódio irracional que serviu para tornar mais dramáticos fenómenos de natureza secular, o nazismo e o fascismo.

Mas o mais implacável dos três monoteísmos surgiu apoiado pelo impulso belicista e a violência das tribos nómadas do deserto através da cópia grosseira do cristianismo e do judaísmo – o Islão. Desde crianças, madraças e mesquitas fanatizam pessoas e ensinam o que um rude condutor de camelos – Maomé – desejava. No fundo, queria que todos se convertessem ao Islão e «os que não quiserem, matai-os».

Já se esqueceu a euforia da rua islâmica quando Salman Rushdie foi condenado à morte ou os editores de «Versículos Satânicos» foram assassinados? Quem esqueceu os gritos ululantes pela morte de turistas infiéis ou dos passageiros dos comboios que seguiam para a estação de Atocha? Quem ignora o êxtase pio quando ruíram as Torres de Nova York ou os desacatos provocados pelas caricaturas do Profeta?

Há quem exulte a ver uma criança levada à excisão do clitóris, a assistir a chicotadas em mulheres, à decapitação de apóstatas ou à lapidação das mulheres para quem a violação conta como adultério da vítima.

Urge lembrar a tragédia que foram as Cruzadas, a evangelização dos índios, as fogueiras da Inquisição ou as perseguições aos judeus ou destes aos palestinianos para execrar os versículos medievais que um condutor de camelos, analfabeto e amoral, legou?

O Islão não é apenas a pior das ideologias com poder, é a mais implacável máquina de tortura e humilhação contra as populações que oprime, sobretudo, mulheres, e que deve ser questionado pela agressão ao autor de Os Versículos Satânicos, alvo de uma fatwa, há 33 anos, pelo Aiatola Khomeini. Há sempre um demente capaz de cumprir a sentença pia de um abominável clérigo.

A tentativa de assassínio do notável escritor Salman Rushdie é a grotesca ameaça que paira sobre as democracias. Ao autor de quem li quatro excelentes romances deixo aqui a minha solidariedade e o repúdio por quem se opõe à liberdade de expressão.


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