Salman Rushdie e o silêncio das democracias

O Irão, incapaz de compreender a liberdade de expressão, responsabiliza Rushdie e os seus apoiantes pela tentativa do assassinato do escritor. Faz lembrar o juiz que viu na minissaia a responsabilidade da vítima de violação.

Através do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o regime de Teerão diz que “Salman Rushdie se expôs à indignação pública por insultar as santidades islâmicas e ter ultrapassado os limites para 1,5 mil milhões de muçulmanos”.

Deve haver um número maior de pessoas normais, pessoas que defendem a liberdade de pensamento e o direito à expressão, estarrecidas com tão boçais afirmações e incapazes de pensarem em prescrever 10 facadas para assassinarem os dirigentes iranianos que se tornaram cúmplices do demente assassino ao justificarem o hediondo ato.

Há quem não perceba que vale mais a vida de um só homem do que todas as santidades alegadas pelos diversos credos.

Quase tão grave como o pensamento obsoleto de regimes teocráticos é a resposta frouxa do Reino Unido, de que o notável escritor é cidadão, e a dos EUA, ao considerarem essa criminosa declaração como meramente “ridícula” e “desprezível”.

Como é possível não exigir aos regimes que se declaram islâmicos o repúdio do crime que o execrável Aiatola Khomeini mandou cometer há 33 anos contra o cidadão do RU?

Nasser Kanaani, o porta-voz do MNE iraniano, que proferiu os dislates acima referidos, não faz ideia do horror que causa, da violência que promove, da injustiça das palavras que bolçou, porque, para o crente embrutecido pela fé toda a violência contra os infiéis é legítima.

O silêncio das democracias perante um ataque à liberdade a um dos seus cidadãos não é um gesto de mera cobardia, é a cumplicidade com os totalitarismos para que resvalam.

Rushdie, mártir do livre-pensamento, vítima da liberdade que defende, inclusive para os seus inimigos, um dos maiores escritores mundiais, é agora ícone da resistência à fúria assassina de uma religião que regressou à Idade Média.

O que me indigna é o silêncio dos países laicos, contemporizadores com o que se prega nas mesquitas e madraças islâmicas, porque o petróleo é loiro de olhos azuis, salvo se extraído na Rússia, e o Profeta amoral e analfabeto é farol de mil e quinhentos milhões de muçulmanos para quem a morte de um livre-pensador humanista é desígnio divino.

Maldito Aiatola Khomeini! Cobardes dirigentes de países democráticos!  


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