Marcelo e a instabilidade política
Marcelo é o consagrado constitucionalista não praticante que, salvo o respeito devido ao PR, atropela grosseiramente a laicidade e, no seu exuberante exibicionismo, perturba o regular funcionamento das instituições, de tal forma que acabará por tornar insuportável a convivência com o Governo.
A necessidade de estar permanentemente no palco mediático
leva-o a comentar todos os assuntos e, por isso, a pronunciar-se sobre questões
que não são da sua competência ou que interferem gravemente na governação e na
vida partidária.
O País pode consentir-lhe as viagens erráticas ao
estrangeiro, quando a política externa é reserva exclusiva do governo, mas
dificilmente pode o Governo abdicar de manifestar a sua posição através do MNE
que geralmente o acompanha, por questões protocolares, e tem de suportar-lhe a
opinião para que lhe falta competência legal.
Podia ficar-se Marcelo pelas missas, selfies, funerais, comentários
desportivos e outras insignificâncias sem comprometer a isenção política que se
lhe exige, mas a obsessão de interferir no partido de que foi presidente e de
preparar a sucessão do Governo e da PR, estão a impedir-lhe a dignidade que se
esperava durante o último mandato. Marcelo não pode transformar-se num Cavaco culto
e com excelente cumplicidade com os media.
Depois de ter sido uma lufada de ar fresco quando, após a
eleição do primeiro mandato, se impôs pela cultura, inteligência e simpatia, face
ao salazarista que o precedeu em Belém, parece ter regressado no segundo
mandato a militante partidário.
Dentro do PSD foi impiedoso para Rui Rio chegando a receber
Paulo Rangel em atitude de desafiadora preferência na véspera de eleições
internas, onde passou pela humilhação de ver o seu candidato derrotado.
Há um ano, em plenas eleições autárquicas, por desejo
próprio ou curiosa coincidência, encontrou o candidato do PSD e dos partidos
satélites na Feira do Livro de Lisboa. Foi a noite de dar a conhecer Carlos
Moedas aos lisboetas, com as televisões atrás, e de lhe dar a ajuda de que
precisava. Este ano, já com o seu candidato na qualidade de edil, voltou a passeá-lo
no mesmo evento e a gabar-lhe o trabalho autárquico de que os munícipes não se
deram conta. Há coincidências e reincidências.
As constantes declarações sobre o que o Governo deve fazer
ou o que espera que faça, o narcisismo e a sofreguidão do poder estão a perturbar
a governação e a transferir para Belém o combate partidário que cabe
exclusivamente aos partidos.
Em vez do poder moderador que se espera do PR, Marcelo está
a resvalar para a posição desestabilizadora, que é inaceitável, e a ilustrar a invetiva
dos anarquistas franceses de Maio de 68, «Quem sabe, faz; quem não sabe,
ensina».
Depois da campanha mediática contra o BE, vieram os demolidores
ataques ao PCP. Eram de esperar agora os ataques ao PS. Não se estranha o
comportamento dos media cuja propriedade é conhecida, só não se aceita a
atitude conivente de Marcelo porque é o PR de todos os portugueses, apesar de se
empenhar em criar adversário.
Nunca a situação foi tão imprevisível e perigosa, em
Portugal e no Mundo. Basta!
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