Salman Rushdie – vítima do fascismo islâmico
Os media iranianos celebraram o ataque, identificaram o agressor do escritor como seguidor do Hezbolá e referiram a alegria popular pelo esfaqueamento repetido pelo homicida.
Não faltaram manifestações de júbilo nas ruas islâmicas onde o
ocaso da civilização árabe deu lugar à radicalização da religião, onde coexistem
a pobreza extrema e a opulência, e o único bem que todos os homens fruem, de que
não prescindem, é a posse de mulheres.
É fácil atribuir às mulheres o dever da revolta ou afirmar
que são felizes na humilhação, e inaceitável
defender o respeito das tradições e da fé que não toleram divergências.
Rushdie tinha 42 anos quando o seu romance, «Os Versículos Satânicos»,
foi declarado blasfemo pelo anacrónico Aiatola Khomeini. Condenou-o à morte,
1989, numa fatwa que despertou a fé dos muçulmanos e excitou a fé, o ódio e a
demência coletiva.
Liberdade religiosa ou política é o direito de ser a favor,
indiferente ou contra. Não é o simples direito à genuflexão, ao beija-mão, ao
dobrar da espinha. Quem aceita dogmas acaba de joelhos ou de rastos, a lamber o
chão ou a mão de um clérigo.
A blasfémia e a apostasia são crimes medievais incompatíveis
com os direitos humanos, nomeadamente a liberdade de expressão e a liberdade
religiosa. Esta última só existe se permitir abandonar a fé, mudar de religião,
desinteressar-se ou criticá-la. A blasfémia é um crime sem vítima, ofensa a
Deus, no jargão religioso, sem que o ofendido passe procuração para processar
ou punir o autor da alegada ofensa.
A liturgia da fé é a «ordem unida» dos exércitos, um
exercício que nos leva a abdicar da razão pelo passo certo. É preferível ferir
os calcanhares do que acertar o passo ao toque do tambor ou à litania da
religião.
A liberdade conquista-se quando conseguimos dizer não ao
caminho que rejeitamos, às ideias de que discordamos e aos símbolos que
repudiamos e, quando formos livres, dar-nos-emos conta de que só atingiremos a
liberdade quando todos a conquistarmos.
Independentemente das motivações do frustrado homicida não
se deve esquecer que há um prémio de cerca de três milhões de euros, criado por
uma instituição islâmica para o assassinato do notável escritor inglês de
origem indiana.
O direito à troça, à ironia e ao sarcasmo é tão respeitável
como o direito à fé e à liturgia. A blasfémia é a catarse que emancipa e
liberta.
Uma religião que manda matar quem não a respeita e quer
obrigar o mundo a converter-se, não é uma doutrina salubre, é um frasco de
veneno destapado.
Apostila – Quando o Aiatola Khomeini proferiu a fatwa contra
o Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro, teve do
Vaticano, do arcebispo de Cantuária e do Rabino Supremo de Israel a compreensão
pela piedosa demência de Khomeini.
O silêncio dos líderes islâmicos e dos dignitários atuais das religiões referidas é um ato de profunda e iníqua cumplicidade. Até ao momento desconheço qualquer reação ao cobarde atentado.
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