No centenário de Natália Correia 13-09-1923/16-03-1993
Há 100 anos nasceu Natália Correia, notável intelectual, escritora, jornalista, política e cidadã. Deixou a marca de uma personalidade ímpar e da independência do seu espírito.
Natália escreveu um grande elogio fúnebre de Sá Carneiro seduzida pela sua coragem a assumir a sua relação com Snu Abecasis num tempo em que o divórcio era proibido, ao contrário de gente do PS que quis vergonhosamente explorar a sua relação ilegal.
Natália votou na AR, ao lado de Helena Roseta e de mais três deputados do PSD a lei da legalização da IVG e acabaria por abandonar o partido quando o sentiu mal frequentado.
Natália foi a voz do inconformismo, a mulher cujo desassombro intimidava os homens e a consciência crítica de quem não deixava aprisionar a democracia na beata moralidade da direita conservadora.
Porque o humor é uma forma de pedagogia, deixo aqui, dos muitos com que enriqueceu a literatura, o poema que escreveu quando o ora PR se candidatou à Câmara de Lisboa e disparou as 300 medidas com que quis salvar Lisboa. Natália fez o «acompanhamento jocoso das piruetas marcelinas», nas suas próprias palavras:
MARCELO E AS TÁGIDES
Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso – ó bacanal! –
ao leito húmido das Tágides daninhas.
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Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!…
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.
E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.
Outros prodígios – dizem – congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.
Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.”
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