Marques Mendes e as suas homilias semanais (texto atualizado)
Nunca sabemos se o bruxo de Fafe é ele próprio, o militante de uma das fações do PSD, o conselheiro de Estado ou o alcoviteiro de Belém, e qualquer um dos avatares é suficiente para que os jornais, emissoras de rádio, televisões e redes sociais façam eco das homilias do comentador avençado do “Jornal da Noite”, da SIC.
Há anos, quando tinha acesso à agenda do Conselho de
Ministros, nos tempos lúgubres de Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís, era
certeiro a predizer o futuro e a acertar no que se discutia em S. Bento,
incluindo as reuniões que se faziam por telemóvel, onde os SMS podiam ser a ata
para a resolução do grupo GES/BES e outras decisões graves.
A fama de pitonisa privilegiada do regime vem desses tempos.
No início da legislatura do governo que o PS, BE, PCP e PEV sustentaram, já se
enganava mais vezes do que o que nunca teve dúvidas, seu antecessor na
liderança do PSD.
Na última homilia, como convém aos pregadores, no dia
seguinte ao congresso do PSD, dedicou-se a divagações sobre o eventual
arrependimento do PM por se ter demitido e elogiou Montenegro pelo discurso e pelo
apoio das grandes referências éticas do PSD, Cavaco, Manuela Ferreira Leite e
Leonor Beleza.
Logo ecoaram as palavras em todos os megafones ao serviço da
direita, agora da direita que aguarda de Belém um sinal de que não lhe faltará
quando a casa do PSD saiu agora a brilhar da lavandaria do congresso.
O homem devia lembrar-se da sintonia com as capas dos
jornais de há oito anos, quando o Professor Cavaco ululava imprecações e, já
laureado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, devorava frascos de sais de
fruto a debelar a azia de um Governo, apoiado por toda a esquerda, que o velho
salazarista foi obrigado a empossar.
Num país onde minguam notícias e sobram opiniões é um regalo recordar essas capas, depois de perdidas as profecias do bruxo no ruído da intoxicação da opinião pública.
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