Até aqui cheguei…

 Até aqui cheguei… 

Tomo de Saramago o desabafo para condenar a vindicta de um regime que se habituara a apoiar, contra um adversário político, quando sentiu que, nesse caso, não merecia.

O meu problema é menos grave. Apoiei António Costa quando formou um governo com apoio parlamentar do PCP e BE que lho ofereceram, com enormes custos eleitorais, para evitarem a continuação da agenda neoliberal de Passos Coelho, apoiada por Cavaco. Foi um excelente governo que gente do PS deixa agora atacar pela direita ou faz coro. 

Não foi um governo de coligação, como a direita jurássica gosta de gritar, mas apoiado na AR por partidos à esquerda do PS, a troco de quase nada, apenas pelo medo que toda a esquerda sente agora.

Diz a direita que o atual governo é vontade do eleitorado. Claro que é, tal como o Chega tem o de quem nele votou e cujo apoio o PSD não enjeita. Aliás, foi o que sucedeu nos Açores e na Madeira, no primeiro caso com apoio expresso do CH. do Miguel Arruda, o das malas, e do líder regional que continuou a apoiá-lo já depois de constituído arguido. 

É evidente que o causador do pântano em que o País se encontra foi Marcelo. Teríamos ainda mais um ano e meio de governo Centeno se o PR não juntasse àquele parágrafo escrito a quatro mãos, com a PGR Lucília Gago, o golpe da dissolução da AR.

Nessas circunstâncias ainda teríamos o Ventura a comandar um grupo parlamentar de 10 deputados, Montenegro a receber honorários de advogado e comissões na Spinumviva e o ambiente mais respirável. Marcelo só perdeu a reputação e a relação com o Dr. Nuno, seu filho, mas o País antecipou a deriva fascizante que varre a Europa e os EUA.

Foi neste ambiente que Montenegro, hábil homem de negócios, obrigou o PR a aceitar o PGR que quis, impôs à AR Aguiar Branco e provocou as eleições em que o eleitorado, assustado e cansado, lhe desfez a igualdade com o PS e reforçou o grupo parlamentar.

Com o PR à trela, o PGR como ventríloquo do PSD, o aparelho de Estado capturado e o PS refém, cabe-lhe fazer o que deseja, executar a agenda de Passos Coelho que, como líder parlamentar, defendeu na AR nos tempos da tripla Passos, Portas & Cavaco.        

Não percebo a agitação que grassa na direita, agora tão maioritária, com o aparecimento de uma candidatura para PR, na área do PS onde, diz a direita, outra prejudicaria o PS.

Qual outra? Com três candidatos confirmados da área do PSD, Gouveia e Melo, Seguro e Marques Mendes, este a fazer o pleno da vontade do PR, PM e do pior PSD, não vejo como os apoiantes da infausta candidatura de Maria de Belém, conseguem vender agora Seguro como o candidato do PS, aliás, o candidato que a direita apoia sem nele votar.

Como não tenho a presunção de influenciar o voto de quem quer que seja, só me resta dizer…

Até aqui cheguei.